Sexta-feira, 29 de março de 2024
Por Redação O Sul | 10 de maio de 2018
Em uma tarde de fevereiro deste ano, a professora Mary Beard postou uma foto no Twitter chorando. A célebre historiadora da Universidade de Cambridge, que tem quase 200 mil seguidores na rede social, estava desolada: após fazer um comentário sobre o Haiti, ela foi vítima de uma avalanche de insultos.
“Eu falo com o coração (e, é claro, posso estar errada). Mas o lixo que eu recebo como resposta, não é justo, realmente não é”, tuitou.
Nos dias que se seguiram, Mary recebeu o apoio de diversas personalidades – independentemente de concordarem ou não com sua postagem inicial. E várias dessas pessoas também viraram alvo de agressões. Quando uma das críticas de Mary, a acadêmica Priyamvada Gopal, de ascendência asiática, publicou um artigo on-line em resposta ao tuíte original da historiadora, também recebeu uma enxurrada de ataques.
Mulheres e representantes de minorias étnicas são desproporcionalmente as maiores vítimas de abusos no Twitter, incluindo ameaças de morte e de violência sexual. No caso em que há o cruzamento de ambos os indicadores de identidade, o assédio moral pode se tornar ainda mais acentuado – como mostrou a parlamentar britânica negra Diane Abbott, que recebeu quase metade de todos os tuítes hostis enviados a deputadas mulheres durante a campanha para as eleições gerais de 2017 no Reino Unido. Em média, as parlamentares negras e asiáticas receberam 35% mais mensagens impróprias do que suas colegas brancas, mesmo excluindo Diane do total.
O bombardeio constante de ofensas está silenciando as pessoas, expulsando-as das plataformas digitais e reduzindo ainda mais a diversidade de vozes e opiniões on-line. E não há sinais de melhora. Uma pesquisa realizada no ano passado descobriu que 40% dos adultos americanos já sofreram abusos nas redes, sendo que quase metade foi vítima de formas graves de assédio, incluindo ameaças físicas e perseguição. Setenta por cento das mulheres descreveram o assédio on-line como um “problema sério”.
Retrocesso
A internet oferece uma promessa sem precedentes de cooperação e comunicação entre toda a humanidade. Mas em vez de abraçarmos a possibilidade de expandir nossos círculos sociais na web, a impressão é de que estamos regredindo ao tribalismo e ao conflito.
Enquanto na “vida real” costumamos interagir com estranhos de forma educada e respeitosa, no mundo virtual conseguimos ser detestáveis. Como podemos reaprender as técnicas de cooperação que nos permitiram chegar a consensos e evoluir enquanto espécie?