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Por Redação O Sul | 12 de maio de 2019
No último dia 8 de fevereiro, quando a luz apagou pela segunda vez durante uma entrevista coletiva no Palácio de Miraflores, os guarda-costas cercaram imediatamente o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Protegido por sua escolta no escuro, tomando contrariado uma xícara de café entregue por um assessor, enquanto sua equipe corria para resolver o inoportuno apagão, Maduro era a imagem de um líder cercado.
Desde que chegou ao poder em 2013, enfrentou sucessivas ondas de protestos, ameaças e sanções dos EUA, explosões de drones enquanto assistia a um desfile militar e, na semana passada, a última tentativa de insurreição da oposição para derrubá-lo. Mas ele resiste.
Qual é a situação é Maduro após o último levante?
A Venezuela e o resto do mundo estão se perguntando qual é a situação do presidente venezuelano agora e se ele será capaz de suportar novos ataques.
No entanto, de acordo com essa fonte, “o presidente venezuelano sabe que o jogo não está ganho”. E, embora seja ele quem toma as decisões no governo e no Partido Socialista Unido da Venezuela, faz isso levando em conta as reações das diferentes correntes do chavismo para evitar o risco de uma cisão.
Nas palavras de Ivan Briscoe, analista do International Crisis Group, “Maduro sobrevive, mas dá a impressão de que faz isso a um custo muito alto”.
Geoff Ramsey, do Washington Office of Latin America, avalia que “embora tenha ficado claro que a oposição não tem força para derrubá-lo, Maduro tem cada vez menos capacidade de governar”.
Na mesma linha, o jornalista venezuelano Vladimir Villegas declarou recentemente que a deterioração da situação chegou a um ponto em que a Venezuela “não tem gestão pública, apenas uma encenação”.
O fato de não ter prendido Juan Guaidó, líder da oposição que se autoproclamou presidente interino e desafia sua autoridade, é para muitos um sinal da fraqueza de Maduro e causa desconforto entre as alas chavistas mais radicais.
Na última quarta-feira (8), no entanto, o deputado da oposição Edgar Zambrano, vice-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, foi preso sob acusação de conspiração, rebelião e traição à pátria. Zambrano apareceu ao lado de Guaidó e Leopoldo López no vídeo em que convocaram uma revolta militar contra o governo em 30 de abril.
De acordo com todos os analistas, quem pode decidir o destino final de Maduro é o Exército, cujo apoio é reivindicado por Guaidó. Não é à toa que o chavista multiplicou nos últimos dias os atos públicos com a presença de militares – a ideia é mostrar que são leais a ele.
Alguns, no entanto, começam a ver fissuras.
Briscoe diz que “a liderança de Maduro está pagando um preço alto por sua má administração da economia, o que gera um alto nível de frustração nas Forças Armadas”. E tudo indica que no episódio de duas semanas atrás houve a deserção do general Manuel Ricardo Cristopher Figuera, diretor do Serviço Bolivariano de Inteligência, órgão-chave da segurança do Estado.
Para Michael Shifter, presidente da Inter-American Dialogue, uma notícia como essa “gera muita desconfiança no entorno de Maduro”.
No entanto, um político chavista consultado pela BBC News Mundo, bastante familiarizado com a cultura dos militares venezuelanos, destaca que “o que as Forças Armadas Nacionais decidirem fazer será feito como bloco; ninguém do alto comando vai se atrever a dar um passo sozinho”.
Outro analista, o venezuelano Luis Vicente León, concorda que “o setor militar é altamente corporativista”.
Fora da Venezuela, nem sempre se pondera o bastante a relação entre os militares venezuelanos e o Estado, fortalecida pelo falecido presidente Hugo Chávez. Um apego que vai além do viés ideológico e emocional.
Briscoe acredita que “eles poderiam estar dispostos a mudar de líder, mas não se isso significar acabar com o projeto ideológico do chavismo, que é o que protege seus interesses”.
Para Leon, a fratura das Forças Armadas “não ocorreu porque elas não receberam nenhuma oferta confiável de ‘cogoverno’ e proteção em massa”.