Quinta-feira, 25 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 2 de julho de 2018
Há anos o futebol belga tem chamado a atenção de todo o mundo. Com jogadores técnicos que são estrelas de importantes clubes europeus, como De Bruyne (Manchester City), Hazard (Chelsea) e Mertens (Napoli), entre muitos outros, a Bélgica ainda não conseguiu um título para elevar o status do país além da promessa de sua tão provocada e elogiada “ótima geração” – expressão que já virou meme, piada e clichê. Mas, na virada de 3 a 2 contra o Japão pelas oitavas de final, a equipe demonstrou calma, versatilidade e repertório de um time que almeja a grandeza.
Ao contrário da insuportável passividade espanhola contra a Rússia, a Bélgica não se contentou em trocar passes laterais e manter uma posse de bola ineficaz no meio-campo diante da muralha japonesa, que se destacava pela feroz aplicação tática e pela ocupação de espaços.
No primeiro tempo, frente a uma zaga bem estruturada que chegava a se defender com uma linha de seis em alguns momentos, a seleção belga teve calma, não se afobou e passou a trocar passes rápidos e a ensaiar ataques mais contundentes. Como era difícil penetrar a barreira adversária, os europeus alternavam estratégias: triangulações velozes em alguns momentos, cruzamentos para Lukaku em outros e até chutes de fora da área.
O gol, no entanto, não saiu nos 45 minutos iniciais. Se trabalhava a bola com inteligência, a equipe treinada pelo espanhol Roberto Martínez, armada num ousado 3-4-3, deixava muitos buracos à frente dos zagueiros Kompany, Alderweireld e Vertonghen, desprotegidos pelos meias Witsel e De Bruyne, escalados como volantes. Mas a coragem de um esquema tão ofensivo cobrou seu preço e escancarou a maior fragilidade belga.
Em erros de posicionamento e cobertura, o Japão encontrou seus dois gols, em belas finalizações de Hiraguchi e Inui, logo no início do segundo tempo. Percebendo o estado letárgico de sua equipe após os gols, Martínez fez duas alterações que pareciam conservadoras, mas que foram preponderantes para estancar a sangria defensiva. O espanhol tirou o atacante Mertens e o meia-esquerda Carrasco para a entrada de Chadli e Fellaini no meio de campo, reequilibrando a espinha dorsal do time e mudando o esquema para o 4-1-4-1. Com Vertonghen pela lateral esquerda e Meunier pela direita, a Bélgica corrigiu as falhas de posicionamento na defesa e apresentou um jogo mais coeso.
Essa nova linha central liberou De Bruyne de funções defensivas e deu espaço para Hazard, e os belgas cresceram na partida. Apresentando cabeça fria e paciência, os europeus não se desesperaram. Tentando ultrapassagens e chutes de fora da aérea, a Bélgica abriu a caixa de ferramentas e não teve vergonha de usar jogadas pelo alto para acionar jogadores como Fellaini (1,94m) e Lukaku (1,91m). E assim surgiram os dois gols de empate, em cabeçadas de Vertonghen (1,89m) e do — justamente — criticado Fellaini. Se destoa tecnicamente de seus companheiros de meio-campo, o volante do Manchester United se destaca pela presença de área. É o tal repertório que um time precisa ter para mudar um jogo e avançar num torneio de mata-mata.