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Brasil “Senti culpa por não ter percebido nada”, disse Daniele Hypolito sobre o assédio que seu irmão Diego sofreu

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Para Daniele, nenhum dos episódios de assédio moral que sofreu nos ginásios se compara ao que o irmão passou. (Foto: Reprodução)

A ginasta Daniele Hypolito falou pela primeira vez sobre o depoimento do irmão, Diego Hypolito –que denunciou ter sido vítima de assédio por ginastas mais velhos dos 8 aos 11 anos –, e disse que se sentiu “culpada”.

Ao jornal O Globo, Daniele declarou que “estava em São Paulo e só fiquei sabendo de tudo quando a matéria foi ao ar [no Jornal Nacional]. Fiquei com os olhos cheios d’agua. Senti culpa de não ter percebido nada”, afirmou.

Ainda segundo a atleta, ela precisou comprar medicamentos para a mãe, Dona Geni, de 61 anos, porque “ela tem pressão alta e precisa manter a calma”. “[Ela] está com o coração em pedacinhos”, desde que soube do sofrimento enfrentado pelo filho no começo da carreira.

Entenda o caso

Em entrevista à TV Globo no início desta semana, Diego Hypolito afirmou ter sido vítima de bullying quando ainda era criança e treinava no Flamengo, no Rio de Janeiro.

Segundo Hypolito, medalhista de prata na Olimpíada do Rio e bicampeão mundial no solo, as intimidações eram constantes e envolviam práticas constrangedoras, tais como forçar os ginastas jovens a pegar pilhas com o ânus. O atleta atuou durante a maior parte de sua carreira no clube carioca – ele começou no esporte por volta dos 7 anos e prosseguiu lá até 2009.

As situações ocorreram “regularmente” em campeonatos nacionais, sempre com o consentimento dos treinadores. O ginasta citou especificamente uma ocasião, quando tinha 10 para 11 anos, em um Campeonato Brasileiro em Ribeirão Preto (SP), da qual se recorda.

“Quando eu vi a matéria, no Globo Esporte, foi a primeira vez que eu tive coragem de contar pra minha mãe que eles me faziam ficar pelado, e pegar com o ânus uma pilha colocando uma pasta de dente em cima e a questão da humilhação. E, neste dia, quando aconteceu isso, eu tive ataque epilético e, depois, por ter tido o ataque epilético, eu não consegui fazer a prova toda (…) Depois a gente tinha de colocar ainda com o ânus, não podia ajudar com a mão, você tinha de se agachar, pegar a pilha com o ânus e depois deixar dentro de um tênis, num buraquinho de um tênis. E, depois, (…) se a pilha caísse fora, você tinha de voltar e fazer a prova de novo. Eu fiquei muito nervoso com a situação acontecendo, me deu desespero”, afirmou Hypolito.

O medalhista olímpico também relatou outra maneira de opressão que sofria quando ainda era garoto. A intimidação imposta por técnicos e ginastas mais velhos consistia em punir erros com o asfixiamento em compensados estreitos de madeira, em um ambiente claustrofóbico. As atitudes lhe causaram traumas que ainda não superou.

“Quando a gente não treinava certo ou acontecia algo errado, tinha períodos do ano que eles (técnicos) faziam isso de pegar e colocar a gente dentro de uma tampa de plinto. E ainda jogavam magnésio com a gente dentro, igual a um caixão. (…) Hoje eu tenho problema pra entrar em avião, que é fechado, elevador, que é fechado. Não consigo entrar em túnel, que eu tenho medo. São todos reflexos do que eu vivi quando eu era criança e que eu jamais imaginei”, contou.

Hypolito disse que os episódios o afetaram tanto que jamais os relatou aos pais. A decisão de revelar suas memórias mais obscuras veio apenas após a deflagração do escândalo de abuso sexual de Lopes, que foi seu técnico entre 2014 e 2016, no domingo.

“Nunca contei pros meus pais. A sensação de estar preso numa caixa de plinto, com alguém sentado em cima da caixa, pra você não poder sair de lá, preso, e ainda jogar magnésio e asfixiar, que é a sensação que eu tenho. É. A gente precisa, para um mundo melhor, expor isso. (…) eu tenho certeza de que vou ser muito julgado por eu estar contando a verdade, de coisas que aconteceram comigo (…) Espero que, daqui pra frente, nunca mais essas coisas voltem a acontecer.”

Para Hypolito, a discussão sobre os métodos que foi levantada com a revelação do caso de abuso de seu ex-treinador deve ser encarada como uma chance de reflexão e mudança de hábitos recorrentes no meio da ginástica.

“Não tem mais como a gente passar por isso e ficar impune porque isso dá reflexos pro resto da minha vida. Eu nunca pude me defender porque a sensação que eu sempre tive é que, se eu faço isso, eu posso ser punido nisso. E sou. E somos. É muito triste isso acontecer agora. Eu tinha muita vergonha. Tenho ainda muita vergonha por isso ter acontecido. Não tenho orgulho nenhum de isso ter acontecido comigo. Isso fere muito, muitas coisas. Acho que a gente tem de mudar isso”, disse.

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