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Esporte A Tecnologia está levando um novo torcedor aos estádios: o que filma e até se fotografa nos jogos

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Fotógrafos profissionais concorrem com registros de torcedores. (Foto: Divulgação)

Lídio Farley é um cruzeirense fanático. Mora em Montes Claros, Norte de Minas Gerais, distante 422 quilômetros de Belo Horizonte. No dia da final da Copa do Brasil, no Mineirão, saiu às 7h da manhã de sua cidade rumo à capital de Minas Gerais. Chegou por volta das 16h e esperou mais seis horas até o início da partida, que veria da arquibancada.

Depois de tanto esforço para assistir de perto o seu clube do coração ser campeão, na hora do pênalti decisivo que Thiago Neves converteria, Lídio não assistiu diretamente. Sacou do bolso seu celular e resolveu filmar o lance, assistindo na hora, e muitas vezes depois, pela telinha do aparelho.

No vídeo, postado no Youtube, mal é possível ver os jogadores. Antes da cobrança, o torcedor se filma por alguns segundos e manda, para a câmera, e não em um grito para o jogador, um “vamos lá, Thiago!”. O gol sai, o Cruzeiro é campeão e o áudio estoura.. A arquibancada aparece, e vários outros torcedores celebram o título com uma mão, segurando um celular, também gravando, em outra.

“Tem gente que vai para o estádio e não filma, né?”, diz Lídio, estupefato com os companheiros de torcida que não usam o celular durante o jogo. A figura do torcedor cada vez mais preocupado com os registros (em vídeos ou fotos, dele mesmo, da torcida ou do jogo, ou até dos três juntos) nos estádios pelo mundo é cada vez mais comum. Um fenômeno, claro, que vai além do futebol e está em toda parte: nos restaurantes, em shows e em museus.

“É uma nova geração, a experiência mudou. A tendência é de poder vivenciar o momento e postergar, colocando nas redes sociais; e isso faz parte de uma nova maneira de torcer”, explica a psicóloga Luciana Nunes. “Não dá pra dizer se isso é ruim ou bom, afinal, eles continuam fazendo cada vez mais, então, de alguma forma, há prazer nisso.”

Se antes as fotos de uma partida ficavam a cargo de fotógrafos profissionais, hoje, além de concorrerem com os registros de torcedores, eles também enfrentam outro problema.

“Normalmente, quando vamos transmitir as fotos para a redação em uma cobertura de um jogo, não conseguimos mais fazer isso no intervalo da partida porque muitos torcedores estão publicando fotos nas redes sociais. A qualidade do sinal da internet cai muito”, relata Marcelo Theobald, fotógrafo do jornal O Globo.

No jogo em questão, um Botafogo x Flamengo válido pela semifinal da Copa do Brasil, estava na arquibancada do Lucas Prata Fortes um torcedor alvinegro que não atrapalhou o trabalho de Theobald. Ao contrário do cruzeirense Lídio, ele faz coro pela condenação da nova moda. E, botafoguense, ainda coloca o azar no debate.

“Eu sou extremamente supersticioso na arquibancada, então, já há uma irritação natural por achar que aquilo influencia negativamente na partida. Filmou do meu lado? Não sai gol. Mas fora essa coisa ‘mística’, vejo como um reflexo desse momento que vivemos, onde dizer que estar às vezes é mais relevante que estar. A selfie e a gravação da falta ou do pênalti acaba virando uma desconexão com a experiência que ali está rolando”, filosofa Lucas.

Na partida entre Flamengo e Palmeiras, na Ilha do Urubu, no primeiro turno do Brasileiro, uma cena chamou a atenção: o rubro-negro sofreu um pênalti no fim e, com 2 a 2 no placar, Diego se posicionou para a cobrança. Uma foto mostrou que, atrás do gol, a maioria dos torcedores filmava ou fotografava o lance com o celular, ao invés de assistirem diretamente para torcer.

Não por isso, o meia errou, e o jogo terminou empatado. Mesmo assim, torcedores postaram vídeos até de costas para a cobrança, mostrando suas reações frustradas com o pênalti desperdiçado. Viraram até memes. “Na hora do jogo a gente não sente a diferença, mas no mundo atual do futebol, temos que nos acostumar. Era o radinho antes, hoje, o celular. Essas coisas agora fazem parte do mundo da bola”, diz Juan, zagueiro do Flamengo que já havia jogado no time antes dos smartphones, que hoje iluminam todas as partidas.

Nas arquibancadas, o limite para o “torcedor selfie”, se é que tem que existir, ainda é uma incógnita. Fato é que, no Youtube, qualquer lance importante do futebol mundial acontecido nos últimos anos, ou que ainda vai acontecer nos próximos, estará lá, em alguma filmagem amadora, feita por algum torcedor no estádio. Quase sempre o registro da TV, também disponível no YouTube, será melhor, mas, mesmo assim, os vídeos amadores terão visualizações, curtidas, compartilhamentos.

O limite é o bom senso, não atrapalhar a visão do outro. As pessoas precisam entender que é um novo comportamento. É quase um jornalismo pessoal, a pessoa precisa comprovar que foi. Não é só viajar muito quilômetros para estar ao lado do seu time do coração. É preciso tirar uma selfie”, conclui Luciana.

tags: tecnologia

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https://www.osul.com.br/tecnologia-esta-levando-um-novo-torcedor-aos-estadios-o-que-filma-e-ate-se-fotografa-nos-jogos/ A Tecnologia está levando um novo torcedor aos estádios: o que filma e até se fotografa nos jogos 2017-10-22
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