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Brasil “Tentaram, mas não tiraram meu sapato Chanel”, disse a doleira presa na Operação Lava-Jato

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Foto que Nelma postou com a tornozeleira e o sapato Chanel vermelho, em julho de 2019. (Foto: Reprodução/Instagram)

Primeira presa da Operação Lava-Jato, a doleira Nelma Kodama, afirma que não vê conexão entre as transações que fez e a operação. Dois meses após ser beneficiada por indulto e retirar a tornozeleira eletrônica que usa desde que deixou a prisão, em 2016, ela lança um volume de suas memórias, em que relata o período no Paraná e questiona os termos da sua delação.

“Tive o pior acordo de colaboração”, diz ela em “A Imperatriz da Lava Jato” (Matrix), depoimento ao jornalista Bruno Chiarioni transformado em livro. Em entrevista à Folha, ela diz que teve “uma pena pior que um homicida” e compara sua dívida a uma pena perpétua.

Conhecida pelo episódio em que cantou a música “Amada Amante” na CPI da Petrobras ao se referir ao doleiro Alberto Youssef, com quem conviveu de 2000 a 2009, e pelos ensaios de fotos com tornozeleira, ela refuta o rótulo de “rainha do deboche”.

Apesar das dívidas e de, segundo ela, sobreviver “da caridade dos amigos”, comemora ter conseguido guardar as roupas que tanto gosta. “Continuo tendo meu sapato Chanel, minha bolsa Chanel, minhas coisas boas. Tentaram, mas não tiraram meu sapato Chanel”, afirmou.

1) Como foram os dias após a retirada da tornozeleira?

Quando eu tirei a tornozeleira queria fazer coisas simples, como tomar banho sem a tornozeleira, lavar o meu tornozelo e tirar aquela coisa que estava me prendendo, aquelas amarras em meu pé que não permitiam que eu voasse, que eu pudesse ser livre.

Quando falo dormir fora de casa é ver o sol nascer, ficar até tarde na rua. Fiz isso só no segundo dia [risos], no primeiro não fiz.

2) No livro, a sra. diz que assumiu muitas culpas na Lava-Jato que não eram suas. Quais são?

Quando houve a busca e apreensão e foi deflagrada a operação [Lava-Jato], no dia 17 de março de 2014, eu tinha sido presa três dias antes. O pessoal sempre era orientado que, se acontecesse alguma coisa comigo, era para eles não irem trabalhar, não estarem no escritório e tirar a documentação.

Ninguém pegou nenhuma prova e eu não tinha nenhuma ligação com a Lava-Jato. Eu não sou Petrobras, eu não sou Lava-Jato. O que é a Lava-Jato?

3) ​​​A sra. disse que se sentiu usada pela Polícia Federal.

Usada é um termo chulo e eu sou uma mulher elegante. Desculpa, eu estava no calor da… Fui conduzida gentilmente? Coagida? Tem uma parte do livro que fala do Nestor [Cerveró] [pede licença e abre o livro em uma passagem que mostra uma mensagem do ex-diretor da Petrobras a ela]. “Apesar de toda a dificuldade e tensão emocional a que fomos submetidos.” Não fui eu que escrevi isso aqui. Foi ele.

Quando você vai preso, vai preso. Fica lá na sua cela. Ninguém fica assim [cutuca o braço do repórter]. O que é que ele [Cerveró] foi aqui? Coagido? Tem que perguntar para ele. Enquanto aquele homem não fez delação, não teve sossego, ao ponto de o filho dele ter que ser submetido a gravar o [ex-senador] Delcídio [do Amaral] falando. Um filho fazer isso? A que ponto? Por que será que ele fez isso, só porque o papai está preso? Não. Imagina o desespero. Porque não queriam mais o acordo dele, ou queriam, mas queriam que ele falasse mais, porque nunca tudo é o bastante.

4) Esse foi seu caso?

Acredito que sim. É uma coisa insaciável. A custa da liberdade dos outros. Tudo não tem limite, ali não tinha limite.

5) Acha que alguns policiais desconfiavam da veracidade dos seus depoimentos?

Toda vez eu tinha que mostrar com sangue aquilo que eu falava e sempre eles falavam assim: ah, porque não tem muita consistência o que você fala. Não tem consistência aquilo que te interessa, aquilo que não te interessa você fala que não tem, porque você sempre tem que dar mais, nada é suficiente. Eu ouvia isso.

6) A sra. reclama que a imprensa te trata como “a mulher do deboche”. Mudaria alguma atitude que fez publicamente nos últimos anos?

Não, nenhuma. Não deixaria de falar nada, cada momento tem um momento. A minha primeira entrevista [após a prisão] foi naquela revista [Veja] e custou meu apartamento, porque aquilo foi o pelo no ovo para falarem: “Você está debochando”. Qual o problema de eu ter um sapato Chanel? Eu já tinha. Eu continuo tendo.

Continuo tendo meu sapato Chanel, minha bolsa Chanel, minhas coisas boas. Tentaram, mas não tiraram meu sapato Chanel. Apesar de terem destruído parte do meu armário, da minha geladeira, de tudo, porque eles [PF] ficaram com raiva. E a imprensa deve ser livre. Você acha que é deboche? É deboche. Eu não considero que é um deboche. Passar o que eu passei e estar de pé e estar aqui hoje, isso não é ser uma rainha do deboche. Eu não me considero rainha do deboche.

7) Como está sua situação financeira hoje?

Como diz meu amigo Pedro Corrêa: hoje eu vivo da caridade dos amigos. Eu descobri que não precisa de tanto para viver. Graças a Deus guardei bastante sapato, roupa, bolsa.

Comer não pode comer muito que engorda. Passear a gente passeia, porque tem as casas dos amigos para ir. Shopping é de graça, você pode andar. Parque Ibirapuera também. Lógico, precisa de dinheiro para comer, pagar conta do condomínio e luz, mas a minha realidade é outra hoje.

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