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Mundo “Todos estávamos em pânico”, diz montanhista brasileiro no Nepal

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Rosier tira um selfie como filho David Saraiva após a tragédia. Foto divulgação

Resgatado na segunda-feira a 6.120 metros de altura, no Campo 1 do Monte Everest, o montanhista Rosier Alexandre enfrentou momentos de pânico ao presenciar uma avalanche causada pelo terremoto que devastou o Nepal no último fim de semana. Recuperado do susto, mas ainda sem previsão de retorno ao Brasil, o esportista descreve a “mistura de terror, euforia e alegria” na montanha mais alta o mundo, e o reencontro com o filho Davi, de 22 anos, que estava na base do monte a espera do pai.

Confira o relato da íntegra:

“Neste momento escrevo de Debuche (3.800m) retornando para Katmandu onde devo chegar em mais 3 ou 4 dias. Neste momento estou em ambiente seguro, diferente dos que estive nos últimos dias.

No ultimo dia 23 escalei a temível Cascata de Gelo, trecho de maior risco em todo o Everest, utilizando a nova rota aberta este ano, evitando a rota que sofreu a avalanche de 2014, e cheguei salvo ao primeiro acampamento avançado. Acampamos em uma plataforma de gelo cheia de gretas por todos os lados, mas ainda considerada segura. Dia 24 descansamos para seguir em frente no dia seguinte.

Dia 25 acordamos cedo e o tempo parecia normal, caia neve além do normal, mas isso não é um problema. Por conta do frio e do tempo fechado, tomamos café um pouco mais tarde e às 9h40 pegamos nosso caminho para o dia de menor esforço físico de toda a escalada. Saímos de 6.120m do Campo 1 para o Campo 2, que está a 6.550m. Além de um desnível de apenas 430m temos um pequeno sobe e desce nos primeiros 30 minutos, depois mais 39 minutos de zigue-zague contornando imensas gretas e depois seguimos um linha reta com uma subida bem suave.

Por volta de meio-dia, tudo transcorria bem, enquanto caminhávamos com tempo fechado pela neve que caía sem parar. Nosso grupo de 12 alpinistas estava dividido em 3 subgrupos, eu estava no primeiro grupo, liderado por Garret Madison, o segundo grupo estava uns 500 metros atrás, mas a neve não nos permitia contato visual, o terceiro, ainda mais atrás. O contato entre os grupos se dava apenas por rádio. Escutamos um imenso estrondo, paramos e tentamos identificar de onde vinha, veio um segundo estrondo seguido de outros, mas a nevasca não nos permitia ver de onde era, apenas sabíamos que havia avalanches vindas de todos os lados. Neste momento a plataforma de gelo começou a tremer sem parar, parecia que o iríamos ser sugados. Garrett, enquanto procurava identificar de onde vinha o maior perigo, nos disse para colocarmos o buff (lenço) sobre a boca e o nariz. Todos estávamos em pânico, escutávamos varias avalanches e sequer sabíamos identificar de onde vinham. Passado o sufoco, todos estavam ofegantes e Garrett então decretou um break para lanche e hidratação. Ele entrou em contato com os demais guias que confirmam ter passado pela mesma situação, porém estavam bem.

Por volta de 12h30, quando estávamos chegando ao Campo 2, Garrett entrou em contato com o Campo Base via radio e foi informado que uma avalanche de proporções gigantesca havia descido da encosta do Pumori, que o Campo Base havia sido destruído e nossa médica, dra Eve, estava gravemente ferida e havia muitos desaparecidos. Tudo foi destruído e apenas o rádio funcionava precariamente. Depois de mais alguns contatos informaram que meu filho Davi, que estava no Campo Base, estava bem e havia sido levado para Goram Shep, junto com Michael, cinegrafista da NBC e Ron, nosso colega australiano que havia desistido da escalada na Cascata de Gelo.

Por volta de 13h recebemos informações de que havia ocorrido um terremoto, que as avalanches foram simultâneas e incluíam praticamente todas as montanhas do Nepal. Posteriormente soubemos que em Katmandu havia mais de mil mortos. Claro que eu fiquei muito preocupado com o Davi. Depois de muitas tentativas consegui uma ligação para a Danubia (minha esposa) e lhe disse o que sabia até o momento e, em menos de 1 minuto, a ligação caiu. A tensão foi aumentando à medida que recebíamos notícias e sabíamos a dimensão do problema. A cascata de gelo ruiu completamente, logo estamos presos a 6.500 metros de altitude e precisamos pensar numa saída.

Garrett nos reúne e diz que a Cascata de Gelo está destruída e pode levar dias para ser recuperada, e nossos suprimentos de comida ainda não haviam subido, logo precisamos racionar todos os suprimentos. A noite Garrett informa que a Dra Eve não resistiu ais ferimentos e faleceu, o clima não podia ser pior. Nossa saída dali só tinha dois caminhos, uma operação com helicóptero ou a Cascata de Gelo. E falar em dias para recuperar a Cascata de Gelo é muito otimismo. Na reunião seguinte, Garrett nos informa que 6 helicópteros estavam em Lukla e esperavam apenas bom tempo de voo para nos resgatar, mas sabemos que um resgate a esta altitude é de grande risco e custos muito elevados. Nossos seguros podiam cobrir isso, mas o clima estava ruim e com previsão de mais 3 dias de nevascas. A tensão só aumenta.

As 15h eu estava começando a arrumar a barraca a terra voltou a tremer fortemente e muitas avalanches voltam a ocorrer piorando ainda mais a situação. A noite foi possivelmente a pior da minha vida, eu não conseguia comunicação com o Davi nem com minha família, não dormi um só minuto. Amanheceu mais um dia, o sol brilhou por poucos minutos e tensão continua. Por volta de 13h a terra volta a tremer. Estávamos na barraca restaurante e tudo foi chacoalhado, neste momento os olhares eram estarrecedores, todos se entreolhavam assustados e sem sabem o que fazer.

À tarde, vencido pelo cansaço e a tensão, entrei na barraca e dormi das 14 às 16 horas. No final da tarde a nevasca deu lugar a um lindo por do sol que parecia nada ter acontecido, mas isso não aliviava em nada o clima dúvidas, medo e incertezas.

À noite Garrett nos disse que ao amanhecer deveríamos descer para o Campo 1, onde era menos seguro, mas era ali que iríamos esperar o possível resgate.

A crise parecia estar se encaminhando para uma solução.

O dia amanheceu com tempo aberto, eu havia passamos mais uma noite sem dormi um só minuto, a noite foi a mais fria que lembro já ter passado.

Levantei às 6h45 sob um frio cortante, mas a esperança de um resgate era mais forte. Levantei, me equipei e fui tomar café. O frio era tamanho que meus pés e mãos começaram a esfriar

Sabendo da tragédia e eu preso sem poder fazer nada. Eu fiquei arrasado. Cada voo com 2 passageiros… Uma mistura de terror , euforia e alegria. Em 2014 me vejo envolvido na maior tragédia da historia do Everest . E e em 2015 numa maior ainda, com meu filho Davi no olho do furacão.” Rosier Alexandre. (AE)

 

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https://www.osul.com.br/todos-estavamos-em-panico-diz-montanhista-brasileiro-no-nepal/ “Todos estávamos em pânico”, diz montanhista brasileiro no Nepal 2015-04-28
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