Mundo Trabalhistas já comemoram vitória de candidato muçulmano em Londres
Por Redação O Sul | 6 de maio de 2016
O Partido Trabalhista britânico já comemora a vitória de Sadiq Khan – antes mesmo da divulgação do resultado oficial das eleições para a prefeitura de Londres. Confirmado o primeiro lugar nas urnas, Khan, filho de um motorista de ônibus e de uma costureira do Paquistão, será o primeiro muçulmano a administrar a capital inglesa. Com 44,2% dos votos, Khan derrotou por nove pontos porcentuais o conservador Zac Goldsmith.
Outros dez candidatos também disputaram as eleições locais, cujo resultado será confirmado ainda nesta sexta-feira (6).
A briga nas urnas entre Khan e Goldsmith, que é filho de uma bilionária família de aristocratas, representou o contraste entre pobreza e riqueza que tem se acentuado em Londres, uma capital multicultural com quase 9 milhões de habitantes, entre eles muitos estrangeiros e seus descendentes.
Filho de imigrantes, aluno de escola pública e membro do Parlamento britânico desde 2005, o novo prefeito de Londres é classificado como um muçulmano moderno e progressista. Durante a campanha, Khan ressaltou seu apreço pela fé islâmica, mas salientou ser “londrino, britânico de origem asiática e torcedor do Liverpool há muito tempo”.
Ainda assim, escolheu como lema para sua campanha “prefeito para todos os londrinos”.
“A minha visão para Londres é simples: quero que todos os londrinos tenham as mesmas oportunidades que nossa cidade me deu: uma casa que eles podem pagar, um trabalho altamente qualificado, um salário decente, um sistema de transporte acessível, e um ambiente moderno, seguro, e limpo”, disse no site da campanha.
A religião e a profissão de Khan, que já atuou como advogado na área de direitos humanos, foi alvo de ataques por parte de adversários, que tentaram atrelar a imagem dele a movimentos extremistas muçulmanos. A estratégia fracassou e o trabalhista foi capaz de conquistar votos também de eleitores não muçulmanos.
“#YesWeKhan”
Antes mesmo do anúncio do resultado oficial, lideranças trabalhistas usaram as redes sociais para parabenizar Khan.
“Sua visão positiva e sua dignidade derrotaram uma campanha do medo e de divisão”, afirmou o ex-líder no Parlamento Ed Miliband. O atual líder, Jeremy Corbyn, afirmou que mal pode esperar por trabalhar com o novo prefeito. Ele adaptou o slogan de campanha do presidente americano Barack Obama e terminou sua mensagem com um “#YesWeKhan”.
Até a irmã do candidato derrotado Goldsmith parabenizou “o primeiro prefeito muçulmano de Londres”. “Um grande exemplo para os jovens muçulmanos”, escreveu Jemima Goldsmith num microblog.
Redistribuição de poder
Com a vitória de Khan em Londres, o Partido Trabalhista retoma o comando da prefeitura depois de duas gestões do conservador Boris Johnson.
O resultado em Londres não chegou a ser uma surpresa, uma vez que Khan estava liderando as pesquisas de intenção de votos e, nas eleições gerais no ano passado, o partido dele já havia ampliado o número de representantes da capital inglesa no Parlamento britânico.
Contudo, assim como aconteceu em 2015, a legenda não teve um desempenho tão bom no resto do Reino Unido.
No Parlamento escocês, por exemplo, os trabalhistas perderam 12 das 15 cadeiras que tinham conquistado em 2011, em especial para o SNP (Partido Nacional Escocês), segundo dados da BBC. Perderam o título de segunda bancada para os conservadores. Defensor da independência da Escócia, o SNP, por sua vez, celebrou o que chamou de “vitória histórica”, mas ficou a dois votos da maioria absoluta naquele país. Em Gales, os trabalhistas asseguraram maioria, mas viram os extremistas de direita do UKIP que não tinham nenhum representante conquistarem sete assentos.
Ainda assim, Jeremy Corbyn ganha uma sobrevida no comando da legenda por ter evitado uma derrocada ainda maior que a das eleições do ano passado. Em 2015, o Partido Trabalhista não apenas encolheu como viu o maior adversário, o Partido Conservador, ficar com 331 das 650 cadeiras do Parlamento britânico.
Corbyn, no entanto, não está numa posição muito confortável e enfrenta muitas críticas dentro do próprio partido. Antes mesmo da confirmação da vitória de Khan em Londres, a performance do partido era classificada pelos próprios membros de “encorajadora” a “muito ruim”.
Nesta sexta (6), o primeiro-ministro conservador, David Cameron, atacou os adversários, dizendo que o Partido Trabalhista “perdeu completamente o contato com as pessoas que trabalham duro e que deveriam representar”.
O líder trabalhista, contudo, tentou minimizar as críticas internas e dos adversários. Afirmou que o partido contrariou as previsões de que perderia muitos assentos nas assembleias e conselhos locais. “Nós insistimos e conquistamos apoio num monte de lugares”, afirmou, na tarde desta sexta. (Folhapress)
