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Por Redação O Sul | 8 de junho de 2015
Aos poucos, elas ganham destaque. Na última semana, Caitlyn Jenner foi o centro das atenções ao aparecer publicamente pela primeira vez na capa de uma revista, a “Vanity Fair”. Jenner é mais conhecida por ser medalhista olímpica e ex-padrastro da midiática Kim Kardashian. Laverne Cox foi eleita pela “Time” como uma das cem pessoas mais influentes do mundo em 2015. Trata-se da atriz da série “Orange is the New Black”, fenômeno de audiência.
A executiva mais bem paga dos Estados Unidos, Martine Rothblatt, e a ex-babá do presidente Barack Obama, Evie, têm algo em comum com elas. Todas são mulheres transexuais. Pode parecer que, para esse grupo, representado na sigla LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), tudo vai muito bem.
Não é o que dizem as ativistas brasileiras. Apesar de contempladas no nome oficial da Parada Gay – na verdade, Parada do Orgulho LGBT –, elas se dizem excluídas do evento, que ocorreu nesse domingo (7) na região central de São Paulo (SP). Antes da parada, os organizadores estimavam a participação de 2,5 milhões de pessoas. Foram registrados furtos e tumultos no ato.
Até mesmo o tema deste ano, “Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim, respeitem-me”, está longe de ser consenso. “Não nos representa”, reclama Renata Peron, que por quatro vezes abriu o evento na avenida Paulista cantando o Hino Nacional – e que diz ter sido preterida neste ano.
Segundo ela, é errado afirmar que travestis e transexuais nascem com identidade de gênero definida. Também é o que pensa Luciano Palhano, 30 anos, coordenador nacional da Ibrat (Instituto Brasileiro de Transmasculinidade). “A gente não nasce de forma alguma [definida], a gente simplesmente nasce.” A discordância, diz Palhano, é apenas um dos aspectos do que chama de invisibilidade da população trans que, segundo ele, também não é ouvida pela organização da Parada Gay.
Dentro da sigla LGBT, as diferenças são tantas que o próprio universo do evento, com os “gogo boys” (dançarinos) e a música eletrônica, não agradam a todos. “Acho que é porque eles [organizadores] são homens”, diz Peron. “Toda a cultura da parada é construída ao redor do homem gay cisgênero”, completa Palhano. Em tempo: cisgênero é a classificação de todas as pessoas que não são transexuais.
Reclamações
Presidente da Associação da Parada LGBT, que organiza o ato, Fernando Quaresma diz que as reclamações são infundadas. Segundo ele, as entidades são convocadas para a organização e para discutir o tema. “Mas nem todos comparecem e, depois, dizem que não concordam.” Sobre o tema, ele diz: “Não estamos discutindo as mudanças no corpo [referindo-se aos transexuais] mas a uma característica psicológica”. (Emilio Sant’Anna e Fernando Mola/Folhapress)