Terça-feira, 19 de março de 2024
Por Redação O Sul | 15 de novembro de 2016
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Que se diz que Donald Trump foi eleito Presidente dos Estados Unidos todo mundo sabe. Que foi uma surpresa, também é matéria repetida. Que ele começou como azarão e Hillary como favorita foi a linha assumida por jornalistas metidos a especialistas e que acabaram pagando um mico vexatório. Não querendo ser mais “um sabido fajuto” e confessando que também torci para a Hillary, aproveito para falar de algumas questões que me chamaram a atenção.
1. Como os Estados Unidos são, realmente, uma federação (chegaram a ser uma Confederação, por pouco tempo), diferente do Brasil, onde a Federação “nunca foi inaugurada” como imaginava Carlos Lacerda, os Estados são autônomos e, politicamente, independentes, com o que ganham em importância. Daí, o voto popular influencia mas não decide. O peso de cada Estado, tendo mais ou menos representantes no Colégio Eleitoral, é que vem dar o veredito final.
2. Nem sempre quem tem mais votos, ganha a eleição. Isto aconteceu com GORE, que superou BUSH na votação cidadã, mas não se elegeu Presidente porque Bush, onde ganhou, o fez por margem maior e, assim, foi majoritário no Colégio Eleitoral. O modelo tem raiz histórica e fundamento compreensível jurídico político, mas não tem a cara da democracia moderna. Explica mas não se justifica.
3. Trump foi sempre apresentado como um “empresário exitoso”, o que é uma “verdade relativa” (se é que ela existe). Filho de pai multimilionário no seu primeiro macroempreendimento, com obras faraônicas – cassinos principalmente deficitários – teve decretada sua falência fraudulenta. Aproveitando certas facilidades da lei americana, não pagou os seus credores e, graças a esse benefício legal, mas amoral procedimento, deu calote em todo mundo e, com tal vantagem, voltou a enriquecer, às custas de terceiros.
4. Trump estimulou o slogan “bilionário do povo”, usado, publicitariamente, de maneira mais intensa, nas áreas de alto desemprego, onde obteve expressivas vitórias. Joãozinho Trinta, também entre os americanos, tinha razão: “pobre gosta de luxo; quem gosta de pobreza é intelectual”.
5. Trump, legal (inclusive constitucionalmente) não foi, nem está eleito. O que se escolheu, na terça-feira passada, em cada Estado pela maioria dos votos populares, foi uma lista de pessoas, apresentada por um partido político. Essas pessoas, vindas de todo o país, reunir-se-ão em Washington, em dezembro, e votarão no candidato. Não há na lei norteamericana nenhum dispositivo que obrigue o representante (integrante eleito da comissão estadual) de votar no candidato do seu partido.
O compromisso é público, histórico e moral. De verdade, nos 200 anos de funcionamento dessa sistemática, nenhum representante deixou de votar no candidato partidário. Será que, no Brasil, as coisas aconteceriam assim também ou estaríamos as voltas com “Lava Jatos” a cada 4 anos?
6. Houve outra precipitação da imprensa quando, na madrugada de fatos surpreendentes, foi logo condenando as pesquisas dizendo: erraram completamente. Mera precipitação dos profissionais que fazem a opinião pública através da opinião publicada. As pesquisas estavam certas. Foram feitas com base no voto popular (e não podia ser diferente) e indicavam que Hillary ganharia. Por pouco, mas ganharia. E o que aconteceu? Hillary, no voto popular, superou Trump. Por pouco, mas foi majoritária.
7. Trump está casado (agora um “jovem de 70 anos”) pela terceira vez. É absolutamente fiel. Não à parceira mas ao gênero (ou tipo). Sem variar: loiras, bonitas, vistosas. Todas, modelos estrangeiras; checas, eslovenas etc, que terão de respeitar uma “ordem de serviço”: quando acompanham o esposo: devem ficar ao seu lado ou atrás. Nunca na frente…
8. Trump, com sua voz esganiçada, com seu penteado tentando esconder uma careca avantajada, disse “muitas e más” durante a campanha. Parecia até desvairado. Deu a impressão de que não era pra valer quando se inscreveu nas prévias; mas era! Quando ganhou as primeiras, se disse que era “de tiro curto”.
Quando começou a ganhar nos grandes Estados republicanos, famosos juntaram-se para derruba-lo. E ele os derrotou. Ao ser consagrado candidato do Partido, a grande imprensa só faltou prever por quanto seria goleado pela competente Hillary. Os números das pesquisas começaram a mostrar coisa diferente. E ai o marido (Bill) da candidata lançou-se na campanha. E logo a 1ª. Dama, Melanie, oradora sedutora.
E por fim, o próprio Obama fez comícios, por atacado. Trouxeram Madona, atores, atletas etc etc. Parece que houve excesso de superegos e o palanque não resistiu. Trump tem varias facetas que lembram o perfil de um ditador. Felizmente faltam-lhe alguns que seriam essenciais.
9. Tenho a esperança que Trump seja uma fraude virtuosa. Se for assim, nada das coisas absurdas que ele “prometeu”(pelo menos anunciou) na campanha, ele vai cumprir. Na presidência, será (?) equilibrado, honesto e democrático. Será que estou sendo o Candide, de Voltaire, ou de fato, (quase milagre) o Trump da campanha não tem nada a ver com o da presidência?
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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