Mundo Um adolescente se alimentou só com tomate por 12 anos

Liam Pierce, 14 anos, é portador da SED (síndrome de alimentação seletiva), mas conseguiu vencer a limitação com tratamento psiquiátrico. (Crédito: Reprodução)

Molho de tomate. Sopa de tomate. Compota de tomate. Feijão “entomatado”. Pizza do tomate. Ketchup. E, claro, tomate ao natural. Essa foi a dieta de Liam Pierce por 12 anos. “Havia coisas [na alimentação] que não eram tomate, mas muito poucas coisas. E sempre com ketchup”, recorda Pierce.  Mas sua dieta peculiar não era apenas um capricho. Ele sofria de um distúrbio psiquiátrico.

Trauma familiar. 

A mãe do jovem britânico que hoje tem 14 anos, Helen Pierce, disse que a experiência foi “traumática” para ambos. “Minha sensação, quando pensava em comer outros alimentos, era a mesmo de uma pessoa com aracnofobia ao ver uma aranha. Era como sair da minha zona de conforto”, disse o rapaz. A doença de Pierce é rara e pouco conhecida: é a SED (síndrome de alimentação seletiva), também conhecido como ARFID, na sigla em inglês.

Trata-se, de acordo com especialistas, de uma neofobia alimentar (aversão a alimentos novos) que afeta principalmente as crianças e pode se estender até a adolescência. É uma fobia associada a certos alimentos e muitas vezes conhecida como “neofobia”. Não é simplesmente ser “exigente” com os alimentos. Quanto mais tempo persiste, maior é a rejeição a certos alimentos.

A principal consequência é a deficiência nutricional, o que pode prejudicar o desenvolvimento intelectual, o crescimento, as defesas e desempenho acadêmico, destacou Jesus Roman, presidente da Sociedade Espanhola de Dietética e Ciência dos Alimentos. “A SED significa que você não tem mais de 15 sabores [registrados para o paladar]”, testemunhou Pierce. “É muito difícil explicar, porque muita gente não conhece esse transtorno”, acrescentou.

Portador da SED pode ser confundido com uma criança mimada. 

“Os médicos me disseram que eu era simplesmente uma criança mimada”, lembra Pierce. “Mas isso não é assim. É uma doença real. E é difícil explicar porque muitas pessoas não entendem.” Sua mãe também teve problemas. “Eu não conseguia entender por que meu filho não queria provar algo novo. Foi traumático para ele e para mim”, assinalou Helen.  Muitas crianças tem caprichos com a comida, mas apenas 1% desenvolve a SED na idade adulta. “Ele não era uma criança mimada. Era uma resposta fóbica”, acrescentou Helen.

Diagnóstico difícil. 

Estudos americanos encontraram milhares de casos que respondem aos critérios desse distúrbio alimentar. E, de acordo com o Royal College of Psychiatrists, no Reino Unido, cerca de 12% das crianças de 3 anos de idade sofrem de forma persistente deste distúrbio e são extremamente exigentes com a comida, mas menos de 1% o desenvolve na idade adulta. Já de acordo com a Revista Britânica de Psicologia Infantil Clínica e Psiquiátrica, a SED é “um fenômeno muito pouco estudado que pode resultar em isolamento social, ansiedade e conflito”.

Superação. 

Por sorte, a história de Pierce teve um final feliz. Recentemente, ele começou a incluir novos alimentos em sua dieta. E a mudança, diz o jovem, se deve a terapia de hipnose.  “Nas últimas semanas eu tentei mais de 50 novas coisas”, comemorou. “É libertador saber que se venceu o distúrbio e ver que se está interessado na comida, em provar novos alimentos. Mudou nossa vida”, disse a mãe do rapaz.

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