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Ciência Britânico gera alarde mundial e se transforma em notório caso de “fake news” da ciência

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Artigo do britânico Andrew Wakefield, de 1998, relacionou o autismo em crianças à vacina tríplice viral. (Foto: Reprodução)

Você pode não saber quem é Andrew Wakefield, mas uma pesquisa desenvolvida pelo britânico gerou alarde mundial e se transformou em um notório caso de “fake news” da ciência. Em 1998, Wakefield assinou um trabalho na prestigiada revista “Lancet” relacionando o desenvolvimento de autismo em crianças à vacina tríplice viral. Mesmo execrado por parte da comunidade médica, conseguiu convencer milhares de pais a desistir de imunizar seus filhos, dando início a um surto de caxumba e sarampo no Reino Unido. Doze anos depois, a publicação retratou o seu artigo – em outras palavras, desacreditou completamente o seu conteúdo. As informações são do jornal O Globo.

O movimento antivacina ainda bebe da fonte de Wakefield. A academia também fez um bom proveito. Antes da “Lancet” divulgar a retratação, 633 artigos citaram a pesquisa do britânico. Depois, 638.

A contagem é do blog “Retraction Watch”, fundado em 2010 pelos americanos Adam Marcus e Ivan Oransky. Os especialistas em saúde pública criaram um banco de dados que já conta com mais de 19 mil casos de retratação publicados em revistas científicas, a maioria registrada a partir da década de 1970.

Oransky justifica por que aderiram à causa: até hoje, embora o número de retratações tenha se multiplicado, continua muito aquém da realidade. E, pior ainda, as revistas demoram para divulgá-los, permitindo que teses erradas sirvam como referência bibliográfica a outros experimentos.

A partir dos dados da “Retraction Watch”, a revista “Science” destacou o salto das publicações científicas riscadas da História. Antes de 2010, foram encontradas menos de cem retratações por ano. Pouco tempo depois, o cenário mudou – a pesquisa constatou quase mil retratações em 2014.

Também há menos publicações jogando seus erros para baixo do tapete. Em 1997, apenas 44 revistas científicas relataram a retratação de um artigo. Em 2016, esse número havia crescido mais de dez vezes, chegando a 488.

Segundo pesquisa publicada em 2009 pela revista “Lancet”, cerca de 2% dos cientistas já admitiram ter fabricado, falsificado ou modificado dados ou resultados pelo menos uma vez. A pesquisa critica a visão “propagada pela mídia e por muitos cientistas” de que os fraudadores não passam de “algumas maçãs podres”, indicando que os casos já conhecidos de má conduta são somente “a ponta do iceberg”.

Hoje há mais pessoas observando as publicações, o que é um bom sinal”, explica Oransky, presidente da Associação de Jornalistas de Saúde dos EUA. “Todo o material está on-line, proporcionando comparações de gráficos e cálculos. Também há softwares que ajudam a detectar plágios.”

Oransky compila os casos mais famosos e entra em contato com os autores dos artigos retratados. É bem atendido algumas vezes. Em outras, ouve até ameaças de que será difamado nas redes sociais. O jornalista encara a reação de seus entrevistados com naturalidade.

Estamos falando sobre a carreira deles. Cientistas são seres humanos e, assim como repórteres, não gostam de errar”, avalia. “O maior problema é a falta de transparência das revistas. Não temos ideia de qual é o intervalo entre o momento em que descobrem um erro e o momento em que fazem a retratação. Pode demorar décadas. Enquanto isso, muitos pesquisadores estão baseando seus trabalhos em artigos que não estão corretos.”

O fundador do “Retraction Watch” também se queixa da forma como são feitas as retratações. Muitas vezes aparecem escondidas dos olhos do público, na base de dados de especialistas. Por isso, diz, prefere organizá-las em seu repositório.

Membro do Comitê Assessor da Rede Bioética para a América Latina e Caribe da Unesco , Cláudio Lorenzo sublinha que, entre 2000 e 2010, a base PubMed, dedicada a publicações da área de saúde, publicou apenas 742 retratações – um número que considera ínfimo.

Nem todas as retratações, porém, são atribuídas a fraudes. A academia também se preocupa com outros episódios, como erros de cálculo, plágios e autoplágios – quando o cientista muda apenas detalhes de seus artigos, para que possa publicá-los novamente, mesmo sem novas descobertas.

Em geral, a manipulação de uma pesquisa é percebida por outro especialista, que escreve uma carta à publicação, e ela deve checar o que foi apontado. Então, não diria que a demora das revistas para se retratar é proposital. Elas também sofrem constrangimento, por isso devem avaliar com rigor”, explica.

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