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Por Redação O Sul | 3 de dezembro de 2018
A Funag (Fundação Alexandre de Gusmão), vinculada ao Ministério das Relações Exteriores, editou um manual para candidatos à diplomacia brasileira com críticas ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). No volume “História do Brasil”, do professor e pesquisador João Daniel Lima de Almeida, um dos títulos mais vendidos da loja virtual da fundação, Bolsonaro é tratado como uma pessoa que “se orgulha de sua homofobia”.
A publicação, que estava em destaque no site do órgão do Itamaraty, foi lançada em 2013, sob a gestão do chanceler Antonio Patriota, durante o governo da então presidenta Dilma Rousseff, mas ainda é um guia recomendado aos pretendentes à carreira diplomática. Após a repercussão do texto pela imprensa, a Fundação Alexandre de Gusmão retirou de seu site (www.funag.org.br) o manual em que há críticas a Bolsonaro.
Quando trata da era petista, o autor opina sobre o comportamento e o suposto desprestígio das Forças Armadas no Brasil atual: “A sua influência no cenário político de hoje é quase nula”. O autor, então, resolve citar Bolsonaro:
“O clube militar que motivou a República, o tenentismo e debateu a questão do petróleo nos anos 50 é retratado hoje como uma máquina do tempo, nostálgica e excêntrica. O principal defensor dos interesses castrenses no Congresso é um zelota do porte de Jair Bolsonaro, que se orgulha de sua homofobia. Não poderiam estar em pior situação desde o período regencial. Por terem se descolado do resto da sociedade desde o final do Regime Militar foram relegados à irrelevância, posição profundamente perigosa em um país com pretensões internacionais de potência”.
Governos do PT
No início do tópico sobre os quatro governos federais petistas (2003 a 2016), ao se referir à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, o autor diz que, “simbolicamente, a eleição de um operário galvanizou preconceitos sociais de toda ordem” e que “setores da classe média conservadora por todo País evidenciavam indiretamente seu desprezo à democracia”.
Ao avançar sobre o comportamento dos brasileiros durante o mandato de Dilma e em governos anteriores, há a seguinte consideração: “A tendência do brasileiro a reclamar – em geral, dos governos e dos políticos – em vez de agir é um retrato de um processo histórico demofóbico e desmobilizante e de quase quatro séculos de escravidão”.
No site da fundação do Itamaraty, o livro era vendido a R$ 31, mas a edição digital podia ser baixada gratuitamente. A coletânea de manuais é apresentada como “marco de referência conceitual, analítica e bibliográfica das matérias exigidas pelo CACD (Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata)”.
Segundo a Fundação Alexandre de Gusmão, “os Manuais do Candidato são elaborados por representantes do meio acadêmico com reconhecido saber”. Há, entretanto, a ressalva de que “as opiniões expressas nos textos são de responsabilidade exclusiva de seus autores”.