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Brasil O uso medicinal da maconha ganhou um novo episódio, agora misturando a área acadêmica com a Justiça

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O professor Elisaldo Carlini estuda a maconha há décadas na Unifesp. (Foto: José Luiz Guerra/Imprensa-Unifesp)

O professor Elisaldo Carlini é um pioneiro. Aos 88 anos, dedicou 50 deles pesquisando na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) os efeitos de entorpecentes sobre o organismo humano, especialmente a maconha. Suas descobertas foram tantas que foi 12 mil vezes citado em artigos internacionais e recebeu grandes prêmios, como as duas condecorações entregues no Palácio do Planalto pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. No início de fevereiro, no entanto, ele foi surpreendido por uma intimação: ele precisava comparecer a uma delegacia em São Paulo para prestar esclarecimentos sobre suposta apologia ao crime.

Surpreso, o professor prestou depoimento no 16º Departamento de Polícia, na Zona Sul de São Paulo, na última quarta-feira (21). “Ninguém sabia sobre mim. Eles não tinham a mínima ideia porque ninguém lê artigo científico no Brasil”, contou o professor. “A coisa começou a ficar mais clara ao perceberem que eu sou um professor emérito condecorado pelo presidente. Ficou meio ridículo.”

Carlini foi acusado de apologia ao crime em razão do 5º Congresso Maconha – Outros Saberes, realizado no final do ano passado. A confusão começou depois que o professor enviou uma carta ao Centro de Progressão Penitenciária, em Hortolândia, pedindo a participação de Ras Geraldinho, preso desde 2012.

Ras, cujo nome de batismo é Geraldo Antônio Baptista, é o fundador da primeira igreja Rastafari do Brasil, uma religião jamaicana que utiliza a maconha como sacramento. Acabou condenado a 14 anos de prisão por tráfico de drogas e corrupção de menores depois de uma abordagem policial que encontrou a planta – proibida no Brasil – e fieis, incluindo adolescentes.

“Foram 13 dias de congresso e sete mesas, entre elas uma chamada ‘Maconha e Filosofia'”, conta o professor. “Ela contava com a presença de religiosos, como católicos e evangélicos, e gostaríamos de saber a opinião do fundador da igreja Rastafari no País.”

Embora a presença do religioso tenha sido vetada pela Justiça, uma promotora desconfiou da carta e pediu a instalação de um inquérito policial, que resultou na intimação.

“Esse é um problema que eu sempre enfrentei: o desconhecimento científico da planta. Não acho que quem me indiciou tenha agido de má-fé. São promotores e juízes que seguem a lei exatamente como está escrito, e o que está escrito sobre a maconha é uma coisa atroz.”

Prêmios

O professor iniciou seus trabalhos na Unifesp na década de 1970. “Na época, a maconha era considerada mais perigosa do que o ópio no Brasil. As Nações Unidas e organismos internacionais eram taxativos em afirmar que não havia qualquer benefício medicinal na maconha”, lembra o pesquisador.

Mas seus estudos mostraram justamente o oposto. No final daquela década, seu grupo de pesquisa já desenvolvia os primeiros medicamentos para tratamento de epilepsia e esclerose múltipla. Em pouco tempo, o reconhecimento internacional chegou.

“Em 1979, recebi um documento da OMS [Organização Mundial da Saúde] reconhecendo internacionalmente o mérito dos meus trabalhos científicos.”

Em 1994, ganhou uma condecoração da ONU e foi convidado a ser membro titular do Conselho Internacional de Controle de Narcóticos das Nações Unidas.

Em 1996, recebeu das mãos de Fernando Henrique a Grande Ordem de Rio Branco. Em 1997, foi condecorado com a Horna ao Mérito na área de entorpecentes pelo Conselho Federal de Entorpecentes. Em 2000, nova cerimônia com FHC, agora para receber a medalha Grã-Cruz, a Ordem Nacional do Mérito Científico.

O advogado do professor, Cristiano Maronna, classificou a intimação, a partir de pedido do Ministério Público, como “um constrangimento absurdo, um abuso inominável”.

“O professor simplesmente organizou um congresso científico como faz há muitos anos e jamais quis fazer apologia ao crime. Isso é um abuso de poder em um momento em que esse tipo de arreganho autoritário, infelizmente, não chega a surpreender”, definiu.

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https://www.osul.com.br/um-professor-condecorado-por-uma-pesquisa-sobre-maconha-foi-intimado-por-apologia-ao-crime/ O uso medicinal da maconha ganhou um novo episódio, agora misturando a área acadêmica com a Justiça 2018-02-24
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