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Mundo Uma ilha na Europa muda de “dono” a cada seis meses, há 350 anos

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Troca de comando acontece todo mês de fevereiro e agosto. (Foto: Reprodução)

Na semana que vem, sem que uma bala seja disparada, a França vai entregar 3 mil metros quadrados de seu território para a Espanha. Daqui seis meses, porém, a Espanha vai voluntariamente devolver esse pedaço de terra para a França. Tem sido assim há 350 anos.

Hendaye, uma cidade de praia que fica no País Basco francês, é a última antes da fronteira com a Espanha. Surfistas de inverno ocupam sua baía curvada em períodos fora da temporada. Do outro lado da água está Hondarribia, uma cidade histórica da Espanha.

Entre as duas cidades, há uma fronteira natural: o rio Bidassoa, que escorre em um estuário, dividindo os dois países. A paisagem muda quando se navega rio acima. Edifícios coloridos bascos dão lugar a galpões industriais do lado francês e torres residenciais nada atraentes surgem do lado espanhol.

Mas o que viemos conhecer é a Ilha dos Faisões. Não é fácil encontrá-la. Quando se pede indicações do caminho, ninguém entende por que se quer ir para lá. Dizem que não há nada para ver e que não é possível ir lá só para visitar: ninguém mora lá e não é um destino turístico.

Lá está, no entanto. Uma pacífica e inacessível ilha no meio do rio, com sombras sob as árvores e grama bem cortada. Também há um monumento que homenageia um evento histórico que aconteceu aqui em 1659.

Durante três meses, a Espanha e a França negociaram na ilha o fim de uma longa guerra. O local foi escolhido porque era considerado neutro. Pontes de madeira foram erguidas dos dois lados. Os exércitos ficaram de sobreaviso enquanto aconteciam as negociações.

Um acordo de paz foi assinado: o Tratado dos Pirineus. Territórios foram negociados e fronteiras, demarcadas. O acordo foi selado com um casamento real: Luís 14, da França, casou-se com a filha de Filipe 4, da Espanha.

Outro detalhe do acordo era que a ilha em si seria compartilhada entre os dois países, com o controle dela passando de um para o outro a cada seis meses. Sendo assim, de fevereiro a 31 de julho, ela fica sob a soberania espanhola – e, nos meses que seguem, fica com a França. Esse tipo de soberania conjunta é chamada “condomínio” e a Ilha dos Faisões é um dos mais antigos modelos desse tipo de governança.

O comandante naval da cidade espanhola de San Sebastian e o também comandante naval da cidade francesa de Bayonne são os governadores e vice da ilha. Mas, na realidade, eles têm afazeres mais importantes, então os prefeitos de Irun e Hendaye são quem efetivamente tomam conta do território.

Benoit Ugartemendia administra a divisão de parques para o conselho local em Hendaye. Ele me disse que manda uma pequena equipe de barco para a ilha uma vez por ano para cortar a grama e podar os galhos das árvores. O rio muda com a maré – por isso, é possível, por exemplo, chegar à ilha a pé saindo da Espanha –, então além de cortar a grama, a polícia espanhola tem que perseguir os eventuais invasores ilegais.

A ilha é bem pequena, tem apenas pouco mais de 200 metros de comprimento e 40 metros de largura. De vez em quando, a população é convidada a visitar o local em dias abertos ao público, mas Ugartemendia diz que isso é algo que interessa apenas aos mais velhos, porque os jovens não sabem nada sobre a importância histórica do local.

Hoje, a experiência de cruzar a França até a Espanha por terra é uma experiência incrível, com exceção do trânsito que se pega para completar o trajeto. Mas sob a ditadura de Franco na Espanha, a fronteira era altamente vigiada por policiais. O prefeito de Hendaye, Kotte Encenarro, conta que havia pontos de checagem a cada 100 metros ao longo do rio de frente para a ilha para evitar que adversários entrassem ou saíssem dali.

Hoje em dia, os prefeitos de Irun e Hendaye se encontram dezenas de vezes ao longo do ano para discutir questões de qualidade da água e direitos de pesca. No passado, os pescadores espanhóis reclamaram do formato dos barcos franceses e, recentemente, eles se irritaram com franceses que viajavam de férias em canoas e atrapalhavam seus negócios.

A ilha em si não é prioridade para nenhum dos dois governos. Ela, aos poucos, está sendo corroída – já perdeu quase metade de seu tamanho ao longo dos séculos, porque, conforme a neve derrete, ela cai dos Pirineus para o rio. Mas nenhum dos países quer gastar dinheiro para cuidar desse território.

Neste ano, não haverá qualquer cerimônia de passagem no momento de transferir a ilha de um governo para outro. Havia uma ideia de balançar a bandeira do país que estivesse no comando no momento, mas o prefeito Encenarro disse que isso só motivaria os separatistas bascos a retirarem-na dali ou a colocarem outra deles próprios. Sendo assim, em alguns dias, na ilha de fronteiras menos disputada do mundo, haverá uma troca de comando de novo. E, em agosto, a Espanha devolverá o território, seguindo a tradição secular.

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https://www.osul.com.br/uma-ilha-na-europa-muda-de-dono-cada-seis-meses-ha-350-anos/ Uma ilha na Europa muda de “dono” a cada seis meses, há 350 anos 2018-01-29
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