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Colunistas Uma infeliz comparação

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Excluindo Lula, Bolsonaro está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. (Foto: Agência Câmara)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

 

O desconhecimento – ou o que pode ser mais perigoso: a mera informação polida e enganadora de superfície – permite que um número crescente de pessoas se julgue habilitado a autocredenciar-se como dono da verdade. Crentes na manchete abusiva de anteontem ou crédulos convictos no colorido e bem montado, de imagens e luzes, noticiário de ontem de TV, o “nosso” bem intencionado ZÉ empanturra-se  de manchetes, de difícil digestão.

De verdade, quem sabe mais, sabe que sabe pouco e, por isso, tem a ousadia da moderação; quem sabe pouco olha-se no espelho das formas aparentemente perfeitas, ama a si mesmo, na projeção narcisista da valorização do inexistente e fica contente.

Isso tudo vem de um diálogo que me chamou atenção, nos quarenta segundos de espera da luz verde da torturante sinaleira com seu automatismo que não sabe de nossas aflições e pressas.

Conversava um senhor – chamemos de X – com aspecto de 60 anos de idade, gravata e voz que não sussurrava mas que evitava o discurso. O outro, na casa dos quarenta, de camisa esporte, um pouco mais alto, castigava o verbo – falava dois ou três tons acima do recomendável – dando a informação espontânea de que estava longe  de ser um amigo do vernáculo (chamemo-lo de senhor Y) . Prestei atenção no momento em que Y perguntava ao surpreendido qual a sua opinião sobre o Deputado Bolsonaro; não dando tempo para X responder, começou a descrever atributos do militar: a favor da pena de morte, contra a interrupção da gravidez por decisão da grávida; pelo rearmamento da cidadania: “bandido bom é bandido morto”. E um final agudo: retorno da mulher ao seu espaço de 20/30 anos atrás para poder envolver-se mais com a família etc etc

Continuando X, cortesmente, aguardando o final da arenga de Y, para então manifestar-se, já que a tanto fora convidado (na verdade, provocado), vizinhos, na espera do comando verde do semáforo, logo apartearam com “muito bem”, “isso mesmo” ou então “tá querendo a volta dos milicos”, “tá cheirando a ditadura”, não faltando o brado da senhora com ar de sentença terminal: “parem com essa conversa fiada; esse país não tem cura”.

Nesse momento, Y, um boquirroto, afirmou: “BOLSONARO é o reviver de Carlos Lacerda. Garanto que vocês não conheceram ele (SIC) mas era do mesmo nível”.

Foi ai que um jovem (universitário pela camiseta), não passando dos 18 anos, irritou-se e gritou: “Parem com essa conversa que não leva a nada”.  Olhando firme para Y, concluiu: “Você tá confundindo habeas corpus com Corpus Christi. Comparar Bolsonaro com Lacerda é uma falta de respeito com a História”.

E aproximando de Y, e do alto do seu físico de mais de 1,90, não ameaçador mas incisivo, foi despejando seu informativo sobre Lacerda: “Governador da Guanabara/Rio de Janeiro e até hoje tido como um administrador dos melhores; parlamentar cujo discurso parava o Congresso para ouvi-lo; jornalista de textos tão sérios, quanto contundentes, acabou com a “República do Catete” que, na sua expressão, afundara num mar de lama”. E prosseguiu: Lacerda, ante o desgoverno do indeciso e frágil Jango, teria feito um acordo com Castelo, o mais lucido dos militares: “Em três anos o país seria colocado nos trilhos e haveria eleições gerais, instituindo-se um governo eleito pela força do voto e apto a conviver com a democracia”.

O sinal abriu. Apressados, quase todos trataram de atravessar a rua, preocupados com o “seu” Brasil de hoje: maculado e mal amado…

Y saiu na primeira leva, protestando e criticando os que – segundo ele – não tinham noção da realidade e rechaçavam o seu “Bolsonaro”, identificado pelo jovem universitário “como um cabo que nunca chegará a sargento”.

X estava tão absorto que se esqueceu de atravessar. Uma interrogação surgiu-lhe: “Como seria o Brasil de hoje se aquele inexplicável acidente aéreo que matou Castelo nos céus do Ceará e inviabilizou o pacto com Lacerda não tivessem alterado o roteiro previsto da História?  Já ia abrir o sinal verde mas deu tempo de ficar com a agridoce saudade  do que não ocorreu. Quanta falta fizeram Castelo e Lacerda.

Tanto que até existe lugar (bastante enganoso) para Bolsonaro e se encontre quem, fanático ou desinformado, chegue a compara-lo com Lacerda.

Também, pensou, nesta época em que Trump é presidente dos Estados Unidos nada mais surpreende.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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Distância saudável
https://www.osul.com.br/uma-infeliz-comparacao/ Uma infeliz comparação 2017-09-15
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