Um dos segredos da felicidade é saber aproveitar o que se tem, não é mesmo? Cada vez mais, entendemos que ela não é objetivo, é caminho. O que significa que podemos almejar várias, muitas coisas mas jamais seremos efetivamente felizes se nossos dias foram em busca dela. Ser feliz é a singeleza da fruição plena do momento com a consciência de que ele faz parte de um todo (senão, os prazeres efêmeros nos fariam felizes, quando, na verdade, apenas suprem uma carência imediata – o que é bom, mas não é suficiente).
Uma boa definição de felicidade é do escritor Spencer Johnson, autor de “Quem mexeu no meu queijo?”, segundo a qual “Felicidade não é ter o que você quer, é querer o que você tem.” O que não significa, a meu ver, conformismo. Pelo contrário, significa que é bom você estabelecer claramente as suas metas, alcançar seus objetivos e ai, com total consciência desse processo de desejar/batalhar/vencer, saber curtir a sua conquista.
Felicidade é processo. E almoçar em casa também é felicidade.
Explico. Nascida em nos últimos meses da década de 70, fui uma criança dos anos oitenta, que voltava da aula e tinha o prazer de poder almoçar com mãe e pai à mesa, dividir as minhas aventuras escolares e ouvir as questões diárias dos adultos serem abordadas, naturalmente, em família. Desde que o mundo é mundo, a hora da refeição é sagrada, uma celebração da caça ou da colheita e uma reunião para agradecer pela benção de ter o que comer.
É muito recente o hábito terrível que incorporamos de deixar de comer de forma consciente, prestando a esse momento não só atenção, mas gratidão. A loucura da cultura “workaholic” nos fez amputar a hora do almoço – nos Estados Unidos, a situação é ainda mais grave, pois o horário tradicional de trabalho é das nove às cinco, direto. As pessoas comem em cima de computadores ou em cozinhas adaptadas no ambiente de trabalho.
Na minha vida de jovem adulta, tive a sorte de trabalhar em um escritório de advocacia perto de casa, e mais sorte ainda porque a cultura do almoço sempre se manteve na casa dos meus pais. Porém, tudo mudou no ano de 2010, quando assumi um cargo em Gravataí e, na sequência, outro no Tribunal de Justiça.
Foram menos de seis anos, no total, almoçando em refeitórios e restaurantes. E eu sofria, diariamente, por conta dessa rotina. Não pela comida, porque nunca fui fresca com isso, mas pela ausência de um intervalo de efetiva paz ao longo do dia. Porém, quando me tornei mãe, a situação se tornou ainda mais crítica, pois eu não tinha o que sempre julguei como um momento especial de troca familiar: a hora do almoço.
A questão reapareceu na minha mente porque, recentemente, um famoso comunicador gaúcho deixou uma função importante e de grande visibilidade para, segundo ele (e em ter outras coisas, acredito eu), almoçar com os filhos pequenos em casa. Não é lindo ver homens com tamanha consciência da importância da presença diária, das conversas constantes, dos rituais familiares? Palmas para ele!
Porém, acredite ou não, houve críticas. Aí eu faço duas perguntas: primeiro, quem em sã consciência, pode criticar uma escolha dessas? E, na sequência, quem tem tempo para perder criticando alguém pelas redes, sem saber, efetivamente, da razão das suas escolhas? É muito não ter o que fazer mesmo…
O lado bom é que isso me fez pensar sobre como eu sou feliz tendo podido rearranjar a minha vida para permitir, diariamente, que eu almoce em casa com os meus guris. Costuma ser o caos, eu arranco os celulares, eles se atropelam nas falas seguidamente, brigam horrores, tentam evitar o que eu mando comer… tipicamente, uma vida familiar perfeita – ou seja, um momento juntos na loucura do dia a dia, em que a mãe se torna a chata das regras, mas em que eles, certamente, se sentem seguros de que tem alguém olhando, zelando, direcionando e, principalmente, sempre presente para ouvir as suas histórias, dilemas e dores diárias. Poder ouvir os seus filhos… isso, minha gente… isso é felicidade.
