Domingo, 02 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 22 de outubro de 2015
A existência de relatos de cura entre pacientes que recorreram à fosfoetanolamina não comprova a eficácia da substância contra o câncer, alertam especialistas. Estudos com seres humanos necessários para que uma substância seja considerada um medicamento, chamados testes clínicos, têm planejamento e controle rigorosos, além de acompanhamento contínuo dos pacientes.
Distribuída pela USP (Universidade de São Paulo) de São Carlos por causa de decisões judiciais, a fosfoetanolamina, alardeada como cura para diversos tipos de câncer, não passou por testes em humanos, por isso não é considerada um remédio.
O médico Evanius Garcia Wiermann, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, afirma que existe um viés de seleção nos relatos de cura divulgados. “Se uma pessoa diz que tomou a cápsula e se curou, eu pergunto: quantas pessoas tomaram e morreram, por isso não puderam dar testemunho? Quantas pessoas passaram mal?”, pergunta.
Os testes necessários para o lançamento de uma droga são feitos em três etapas. A fase 1 testa a substância em um número pequeno de voluntários saudáveis para avaliar sua toxicidade. Na etapa 2, ela é testada em pacientes que têm a doença que se pretende tratar.
Na fase 3, o produto é administrado a um número maior de pessoas e seu efeito é comparado a outras drogas ou com placebo, para verificar se a candidata a droga representa avanço no tratamento. São avaliadas questões como indicação e contraindicação, dosagem e efeitos colaterais.
Fosfoetanolamina
“Sem isso, não existe registro de nenhuma substância como medicamento em qualquer parte do mundo. É preciso garantir se o produto é seguro e efetivo para o uso em humanos e, sem estudos clínicos, não se pode verificar isso”, afirma o médico Felipe Ades, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo (SP). Sem os testes clínicos controlados, portanto, não é possível saber se relatos de cura associados à fosfoetanolamina podem ser realmente atribuídos à substância ou se foram resultados do tratamento convencional mantido pelo paciente, por exemplo. (Mariana Lenharo/AG)