Pryscilla Maia é paraibana de João Pessoa, tem 35 anos, sendo pelo menos oito deles vividos na Itália. Na cidade de Lecce, região da Puglia, Sul italiano, ela se casou com um italiano, onde também teve um filho, Lorenzo, de seis anos. Presa há cinco semanas dentro da casa em que mora com outras quatro pessoas, ela relata que o confinamento requer um busca diária por novidades dentro da rotina dentro de casa.
O espaço em que enfrenta o isolamento social é dividido com o próprio filho, o marido, a sogra e um cunhado. Mais um desafio para enfrentar dentro da própria casa. “Como a gente tem uma família bem grande, a gente procura manter a distância de segurança de pelo menos um metro, até mesmo dentro de casa”, comenta.
Após morar cinco anos na Itália, retornado ao Brasil, e desde 2018 voltado à Itália, Pryscilla Maia, que é enfermeira, conta que no início muitas pessoas da cidade não levaram a sério as recomendações de prevenção ao coronavírus. Ela conta que as primeiras idas ao supermercado usando máscara cirúrgica rendia muito mais constrangimento a ela do que um alerta às pessoas.
“Logo no início do decreto as pessoas não davam muita importância, continuavam a sair, não utilizavam máscaras para ir aos supermercados. Foi bem difícil o pessoal aceitar. É tanto que quando eu saí na primeira semana para ir ao supermercado, já usando máscara e luva, as pessoas olhavam e começavam a rir. Na segunda semana, quando eu fui novamente o supermercado, as pessoas começaram a ter mais medo, começaram a respeitar mais o decreto de não sair de casa, de cumprir com as regras de segurança”, comenta.
Caminhando para a quinta semana de quarentena, a brasileira conta que inicialmente a região onde ela mora na Itália não tinha sido incluída como área de risco, ou vermelha, como foi classificada no país, que até os primeiros casos restringiu a circulação de pessoas apenas no Norte, na região da Lombardia e algumas outras vizinhas.
Até a região da Puglia, que fica no salto da “bota” a qual se assemelha o mapa da Itália, entrar como zona vermelha, assim como todo país, no dia 9 de março, Pryscilla conta que acompanhava apreensiva as notícias vindas das outras partes da Itália, mas não imaginava que fosse tomar a proporção atual.
Rapidamente as aulas nas escolas foram suspensas, os estabelecimentos comerciais foram fechados, permanecendo apenas supermercados, farmácias, bancos e correios. As primeiras semanas foram animadas, conta Pryscilla, com pessoas cantando dos apartamentos, tocando instrumentos, como um forma de se solidarizar com a dor que os outros também sentiam, mas o cenário mudou com o tempo.
“Hoje já deu uma diminuída bastante, mas as pessoas seguem muito solidárias nas varandas, tentam fazer coisas criativas. Infelizmente com os números que só vem aumentando, tanto de mortes, quanto de contágio do vírus, as ruas ainda não continuam desertas”, comentou.
Pryscilla, formada em enfermagem no Brasil e na busca de ingressar no curso de medicina na Itália, enquanto tenta revalidar seu diploma na Itália, tentou ajudar os profissionais da saúde italianos em meio a tantas baixas, tentou ajudar no tratamento dos pacientes italianos, mas a burocracia para que pudesse trabalhar no curso em que é formada impediu que o desejo fosse concretizado.
“Nesse momento tão difícil, eu vi que a Itália estava bem necessitada de profissionais de saúde, como eu estou no processo ainda de validação da graduação como enfermeira, eu mesmo assim escrevi para o Ministério da Saúde para pedir, se caso fosse necessário, eu pudesse te ajudar nesse momento tão difícil da pandemia. Mas até agora, infelizmente, não recebi resposta, acredito que vou ter que esperar mesmo”, contou.
Temendo que o Brasil se torne uma nova Itália, Pryscilla pediu que seus familiares, seus conterrâneos, o povo paraibano siga as recomendações das autoridades de saúde a rigor. “A mensagem que eu deixo aos paraibanos é que cumpram as regras. Acreditem na ciência, nos médicos, nos profissionais de saúde, que só seguindo essas regras, todas as recomendações, a gente vai sair dessa o quanto antes”, pediu.
Esperando por dias de céus mais claros, Pryscilla e Lorenzo seguem sua jornada de superar um dia por vez nos tempos nublados que afetam a todos na Itália. As informações são do portal de notícias G1.
