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Alexandre Teixeira G. de Castilhos Rodrigues Dia dos Finados: Entre Bach, as balas do Rio verso dos Titãs – viver antes que seja tarde

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

No Dia dos Finados, quando elevamos nossas lembranças aos que partiram — alguns com um último suspiro, outros arrancados abruptamente do convívio — é inevitável pensar não apenas na morte, mas na vida que estamos vivendo. Coloquei Bach para tocar. A música, que conversa com a eternidade, parece nos lembrar que o tempo corre em compasso acelerado enquanto acreditamos que ele está a nosso favor.

Nietzsche advertiu: “não se pode olhar de frente nem o Sol e nem a Morte”. Talvez porque ambos nos cegam com o mesmo brilho da verdade: somos finitos. “Vive tanquam moriturus” — vive como se fosses morrer — repito há anos em reflexões filosóficas. A morte é a única certeza; o arrependimento, a única sentença que ainda podemos tentar evitar.

Esta semana, enquanto nos preparamos para homenagear nossos mortos, o noticiário escancarou dezenas de mortes em mais uma operação policial no Rio de Janeiro. E aí volto à lição do maestro Del Percio: “o bom policial é o que usa cassetete, porque quando ele pega o revólver, o bandido pega também”. A violência sempre se reflete de volta — ação e reação. Mas, nesse duelo, esquece-se o essencial: a humanidade de ambos os lados. A morte, ainda que prevista ou anunciada, nunca deve ser desejada.

A morte que dança

Há culturas que celebram a despedida como quem celebra o retorno para casa. No México, dia 1º de novembro — Dia de Todos os Santos — lá é o Dia dos Mortos, as ruas se enchem de cores, caveiras sorridentes e música. A vida continua do outro lado, dizem astecas, maias e toltecas desde antes que Cristo pisasse na terra. Lá, hoje, seria festa. A morte não é ruptura, é travessia.

O lindo filme “Viva – A Vida é uma Festa” retrata essa filosofia com leveza e profundidade: a música cura, a memória mantém vivos os que amamos, e o maior medo não é morrer… mas ser esquecido.

A vida que pede palco

Quem já quase morreu — por acidente, doença, ou qualquer abalo do destino — sabe: o mundo ganha outras cores depois. Morre o eu antigo, nasce outro, iniciado pela dor. Jesus nos ensinou isso pela ressurreição: não é sobre voltar a viver, mas viver diferente.
E então pergunto: o que estamos fazendo com nossa vida?

Estamos vivendo ou apenas sobrevivendo?

Não viemos para acumular patrimônio como formigas diligentes. O bem viver é feito de propósito, vínculos, legado. Como animais que somos, deixamos descendentes; mas como seres espirituais que podemos ser, deixamos sentido.

A grande pergunta

Qual o real sentido da vida?
Grandes Luzes da humanidade — Moisés, Confúcio, Dalai Lama, Hermes Trismegisto — apontaram caminhos, nunca obrigações. O livre-arbítrio é nossa maior benção e, às vezes, a nossa ruína. Quando entendemos a vida como obra de
amor, vencemos a morte dentro de nós. Tornamo-nos transmissores de alegria, benfeitores silenciosos, jardineiros que semeiam felicidade nos caminhos alheios.
Místicos chamaram de “pecado original”, filósofos de “palavra perdida”. No fundo, todos falam da mesma busca: ser feliz e espalhar felicidade.

Quando a conta chega

Há quem chegue à velhice e confesse: “não sinto mais prazer na vida”. Então, como numa trilha sonora de arrependimentos, ecoa a música dos Titãs:
“Eu devia ter amado mais…”
Sim:
devia ter beijado mais,
devia ter abraçado mais,
devia ter dito mais vezes “eu te amo”.
O tempo passa e, quando a consciência desperta, percebe-se que o essencial eram as pessoas — e o orgulho, a pressa, a indiferença foram vilões invisíveis que nos roubaram horas que nunca voltarão.

A escolha que nos resta

A morte é universal. O arrependimento não precisa ser.
Quem entende o valor do presente vive como quem já venceu o destino: renasce para si mesmo e para o outro.
Termino com uma voz que vem de muito além dos jornais e da filosofia — Apocalipse 14:13:
“Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam.”
Que nossas obras — de amor, gentileza, afeto e verdade — possam nos acompanhar também.
Porque, enquanto a vida ainda está pulsando em nós,
a maior homenagem aos mortos é viver.

Alexandre Teixeira G. de Castilhos Rodrigues, advogado e escritor – castilhosadv@gmail.com – @castilhosadv

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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