Terça-feira, 09 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de julho de 2023
Prestes a completar 60 anos, Marcelo Gouveia não esconde a felicidade que sente em ter um emprego com carteira assinada na sua idade. Com mais de 20 anos de experiência no setor de inspeção e fraudes em instituições financeiras, ele foi demitido em 2019 após seis anos em uma seguradora.
Depois, soube que, pelo critério usado pela antiga empresa no corte, era “velho” demais. As contas atrasaram, o imóvel alugado foi entregue e ele trabalhou como motorista de aplicativo por seis meses. Mas, em 2021, ele encontrou uma nova oportunidade no mesmo setor em que acumulou experiência. Desde então, trabalha como analista de prevenção a fraudes no Banco BMG.
“Busco sempre me atualizar e me aperfeiçoar cada vez mais. Não me vejo parado. Pelos meus cálculos, tenho mais quatro anos até me aposentar. Mas enquanto estiver com saúde e condição, eu produzo e quero seguir em frente. Gosto muito do que faço, vibro com os resultados”, diz.
Pouco a pouco, relatos como este são mais frequentes. Ainda que em passos lentos, a contratação de profissionais com mais de 50 anos avança em empresas brasileiras. Mas o que era tratado até agora como mais uma vertente dos programas de diversidade já começa a ser vista como uma estratégia de negócio diante do envelhecimento da população.
Os dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE na semana passada mostraram que o crescimento da população brasileira está desacelerando mais rapidamente que o esperado, e isso tem pelo menos dois reflexos diretos sobre o mercado de trabalho, aponta um estudo inédito do economista Rogério Nagamine.
– Menos gente para trabalhar: O pesquisador estima que o número de trabalhadores disponíveis no país vai cair 6,3% até 2060, o que significa uma perda de cerca de 7 milhões de pessoas em relação ao contingente atual, de 107,5 milhões.
– Futura força de trabalho será mais velha: Em 2060, a idade média dos trabalhadores será de 42,1 anos. O ano passado terminou com média de 38,8 anos, pouco mais de dois anos acima da de 2012, que foi de 36,9 anos. Segundo o economista, já no início da próxima década a idade média dos trabalhadores ultrapassará 40 anos.
– Maioria grisalha: E, em 2060, mais da metade (54,4%) da força de trabalho terá mais de 40. No fim de 2022, eram 45,1%. Em menos de quatro décadas, os maiores de 50 serão praticamente um terço (32%) dos profissionais. Atualmente, eles são 22,4%.
Para Nagamine, o envelhecimento demanda políticas públicas e ações das empresas para enfrentar esse futuro. Será preciso aumentar a produtividade do trabalho e a capacidade de os profissionais aprenderem ao longo da vida. Ou seja, os trabalhadores precisarão se requalificar sempre.
“Haverá menos trabalhadores disponíveis, vamos ter que ser mais produtivos para manter o PIB (Produto Interno Bruto), para fazer a economia crescer”, diz Nagamine, especialista em políticas públicas que foi subsecretário do Regime Geral de Previdência Social no governo passado. “O ritmo crescente da mudança tecnológica já demandaria por si só maior aprendizagem ao longo da vida. O envelhecimento da estrutura etária da força de trabalho reforça ainda mais essa necessidade.”
O estudo de Nagamine considera dados da Pnad Contínua, do IBGE, e deve ser publicado na revista acadêmica da Fipe em julho.
O BMG viu melhora no atendimento desde que criou, em 2021, um programa de contratação de pessoas com mais de 50 por uma terceirizada de call center. De lá pra cá, foram admitidos 36 profissionais maduros para o atendimento a clientes do banco que, muitas vezes, são idosos aposentados.
Embora o tempo das ligações tenha aumentado, a comunicação com clientes melhorou.
“Essa pessoa que tem mais de 50 anos fala o mesmo idioma de quem está do outro lado da linha. Entende, tem mais paciência para explicar e gera mais empatia com coisas simples. É um projeto ganha-ganha: abre espaço de trabalho para quem é marginalizado e agrega valor ao negócio”, diz Rosana Aguiar, gerente executiva de ESG do BMG.
Na Sanofi, um banco de talentos maduros foi criado em 2021. A farmacêutica pretende ter 20% de profissionais com mais de 50 anos até 2025. Hoje, eles são 16% do quadro.
“Conseguimos construir times equilibrados, com diferentes perspectivas, conhecimentos e habilidades complementares”, diz Pedro Pittella, líder global do pilar Gerações+ na multinacional. “Benefícios já são colhidos.”
Na MAG Seguros, a inclusão de profissionais acima de 50 anos ganhou tração com um programa de contratação voltado para esse público, criado em 2021 em parceria com o Instituto de Longevidade Mongeral Aegon. O objetivo é unir a experiência de vida desses profissionais para a formação em uma nova carreira como corretores de seguros. De lá pra cá, já foram contratados mais de 100 profissionais.
A empresa percebeu que a bagagem de vida, a tomada de decisão mais rápida e a maior credibilidade desse público contribuem para formação de uma carteira mais saudável e vitalícia de clientes.
“Outro aspecto importante está no perfil de menor impulsividade, visto que a profissão de corretor exige resiliência, perseverança e assiduidade”, diz Patrícia Campos, diretora executiva de gente e gestão da MAG Seguros. As informações são do jornal O Globo.