Quarta-feira, 11 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 31 de julho de 2023
Para a organização, a inteligência artificial não pode substituir totalmente os professores.
Foto: ReproduçãoA inteligência artificial pode se ocupar de tarefas repetitivas e facilitar a busca de informações na educação e isso faria com que as escolas se preocupassem em estimular habilidades importantes como pensamento crítico, criatividade, resolução de problemas. Mas, ao mesmo tempo, a IA também pode, ao dar respostas rápidas, fazer com que o estudante deixe de refletir e de buscar soluções sozinho. Essa é uma das discussões que aparece no Relatório Global de Monitoramento da Educação 2023 da Unesco intitulado “A tecnologia na educação, uma ferramenta a serviço de quem?”
A IA também foi abordada durante o evento de apresentação do documento no Uruguai, do qual participaram ministros da Educação de vários países e outras autoridades internacionais. “A inteligência artificial vai substituir o docente? Não”, disse o diretor de Direitos Humanos para América Latina e Caribe do Banco Mundial, Jaime Saavedra, durante o evento.
“Mas o professor pode usá-la para ter informações mais fáceis, consumindo menos tempo, pode fazer exercícios mais interessantes para os alunos, e ter tempo para se dedicar ao que a tecnologia não faz, que é investir na criatividade, na reflexão, no pensamento”, completou. Segundo ele, a tecnologia pode acelerar os processos de aprendizagem. “Mas precisamos olhar para o fator humano, para os professores.”
O documento, que reúne evidências de pesquisas do mundo todo, expõe os benefícios da tecnologia na educação, mas faz também uma leitura crítica do uso não regulado e não moderado por educadores. É a primeira vez que o relatório anual da Unesco, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a educação, discute a tecnologia.
O documento indica que um em cada quatro países do mundo proíbe ou tem políticas sobre o uso do celular em sala de aula. Entre os que recentemente anunciaram a proibição estão Finlândia e Holanda.
Com relação à inteligência artificial, o relatório diz que é preciso que “haja mais evidências para entender se as ferramentas de inteligência artificial são capazes de mudar a forma pela qual os estudantes aprendem, para além do nível artificial de correção de erros”. Mas que ao simplificar o processo de obter respostas, “essas ferramentas poderiam exercer um impacto negativo na motivação do estudante de conduzir pesquisas independentes e achar soluções.”
A Unesco alerta ainda que a IA pode aumentar a desigualdade na educação se não souber considerar as diferentes formas e tempos de aprender.
Por outro lado, o texto diz que a inteligência artificial pode ajudar na identificação de plágio e de outras maneiras de burlar regras em trabalhos escritos de estudantes. A Unesco menciona que a inteligência artificial tem sido aplicada a jogos de aprendizagem imersiva, como aplicativos como Duolingo, de aprendizagem de línguas. E que ela pode ajudar a identificar quando os alunos não estão engajados na aprendizagem.
O texto fala ainda que ferramentas como o Chat GPT têm sido rapidamente adotadas por estudantes – cerca de 1 bilhão de pessoas por mês entram na plataforma. “Seus criadores acreditam que a inteligência artificial vai aumentar a eficácia dessas ferramentas de tal forma que seu uso pode se tornar generalizado, personalizando ainda mais a aprendizagem e reduzindo o tempo que os professores gastam em tarefas como correção e cálculo de notas, além de preparação de aulas”, diz o relatório.
Além disso, se “tarefas repetitivas forem cada vez mais automatizadas e mais empregos exigirem habilidades de pensamento mais importantes” as escolas serão pressionadas a desenvolver cada vez mais a reflexão em seus alunos. O trabalho dos professores também pode ser mudado caso a “tutoria inteligente” da AI se ocupe de algumas tarefas.
A questão, segundo a Unesco, é se a IA vai ser o ponto de virada na educação, que vem sendo discutido há anos desde que a tecnologia passou a ser inserida nas escolas. Para a organização, a inteligência artificial não pode substituir totalmente os professores, mas, sim, dar mais responsabilidade a eles “para ajudar a sociedade a navegar por este momento crítico”.