Tirar fotos de si mesmo nu e enviá-las pela internet – as famosas nudes – a um pretendente ou ao companheiro não tem nada de errado. É isso o que afirmam as psicólogas Juliana Cunha, coordenadora da ONG Safernet, e Andrea Jotta, que pesquisa Psicologia de Informática. O crime é divulgar essas imagens, como aconteceu recentemente com o ator Stênio Garcia, cujos os cliques sem roupa ao lado da mulher foram espalhados pela rede, ou com a estrela hollywoodiana Scarlett Johansson, em que fotos foram hackeadas de seu celular em 2012.
Os casos ilustram que enviar as nudes sem consentimento é uma violência de gênero, na percepção de Juliana. Enquanto o ator se mostrou menos abalado com o episódio, a mulher, Marilene Saade, foi quem queria tomar as providências maiores contra a pessoa que pegou as imagens no smartphone do marido e as espalhou.
De acordo com dados da Safernet, 81% das pessoas que procuram ajuda na ONG após ter sua intimidade espalhada são mulheres. “A gente tem uma cultura machista, que julga quando as mulheres exibem sua sexualidade. Na internet, as pessoas xingam”, ressalta Juliana. “Se vaza em uma cidade pequena, fica difícil até para a pessoa sair de casa. Especialmente na vida de adolescentes pode ser um grande problema”, continua.
Para Juliana, a primeira providência para quem for vítima de vazamento de nudes é falar sobre o problema. “Muitas vezes, a pessoa tem medo de a família descobrir. Então, é muito importante pedir ajuda imediatamente”, diz.
“Guardar para você acaba ficando pior. O ideal é usar as ferramentas na internet para conseguir parar com aquilo. Se estiver doendo muito do ponto de vista psicológico, então talvez o melhor seja procurar ajuda, para não deixar que o episódio acabe afetando futuros relacionamentos”, adverte Andrea.
O publicitário Vinicius Curi, que criou uma página no Tumblr chamada “Manda Nude”, em que fazia paródias com imagens conhecidas, como o logo dos programas “Sessão da Tarde” e “Fantástico”, disse que a expressão acabou deixando a prática, já antiga, em evidência. “Eu acho que estraguei a brincadeira. Hoje, se alguém pede para ‘mandar nudes’, a outra pessoa dá risada e não as envia. Teve um cara que reclamou para mim que, depois do meu Tumblr, ninguém mais manda foto sem roupa”, salienta.
Cuidado com as crianças.
A Safernet também constatou que há crianças mandando nudes a partir dos 10 anos. Para evitar essa prática, Andréa recomenda que o responsável ou o educador monitore o que elas estejam fazendo on-line. “Não é proibir. Qualquer criança ou adolescente tem o direito de errar. Mas erros podem ser cruciais nessa fase da vida”, alerta.
Para ela, o uso errado da internet por parte dos responsáveis pode refletir no comportamento on-line dos pequenos. No caso de uma família que compartilha uma mesma conta para acessar a internet, por exemplo, da mesma forma que os pais podem ver tudo o que o filho está fazendo, a criança também terá acesso a tudo o que os adultos fizerem na rede.