Sexta-feira, 14 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de junho de 2016
Testes conduzidos a pedido do governo federal mostraram que a fosfosetanolamina, conhecida como “pílula do câncer”, é capaz de retardar o crescimento de tumores em camundongos – embora o faça com menos eficácia do que um quimioterápico que já é usado por pacientes humanos há décadas.
Trata-se do primeiro sucesso da substância nos ensaios conduzidos por equipes independentes a pedido do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações desde o fim do ano passado. Análises anteriores haviam indicado que a “fosfo” na verdade seria composta por diversas substâncias, além de não ter efeito contra o câncer em ensaios feitos tanto in vitro (com células tumorais em tubo de ensaio) quanto in vivo (com roedores com câncer).
Os dados contradizem o que afirmam os pesquisadores que estudam a “fosfo”, liderados por Gilberto Chierice, químico e professor aposentado da USP (Universidade de São Paulo). Eles publicaram alguns trabalhos mostrando eficácia da substância in vitro e em cobaias.
Chierice também distribuiu a pílula por décadas a pacientes, muitos dos quais afirmam ter obtido resultados positivos. Com base no clamor popular pela liberação do uso da fosfoetanolamina, o governo federal e o do Estado de São Paulo resolveram financiar testes para avaliar a utilidade clínica da molécula.
No estudo recém-divulgado, pesquisadores do Centro de Inovação e Ensaios Clínicos, em Florianópolis, trabalharam com 40 camundongos que receberam implantes de células de melanoma humano, câncer que normalmente afeta a pele. Os animais foram divididos em quatro grupos iguais: dois deles, receberam a “fosfo” em concentrações diferentes, outro recebeu apenas soro fisiológico e o último, injeções de cisplatina, droga usada na quimioterapia desde 1970.
Os roedores foram acompanhados ao longo de 36 dias. Em todos eles, o tumor cresceu, mas o aumento foi bem maior (da ordem de 13 a 14 vezes) nos bichos que receberam soro ou a concentração mais baixa da “fosfo”. Quando a pílula foi dada na concentração mais alta (500 mg por quilo de peso), o crescimento do tumor foi 35% menor; no caso do quimioterápico, esse crescimento foi cerca de 70% menor.
É esperado que diferentes tumores respondam de forma distinta a medicamentos, já que o câncer pode surgir por diferentes mutações no DNA. Os testes devem continuar, inclusive envolvendo seres humanos, em São Paulo. (Folhapress)