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Por Redação O Sul | 26 de julho de 2020
O novo coronavírus entrou no Brasil de forma distinta pelo menos cem vezes — na grande maioria das vezes vindo da Europa. A maior parte dessas introduções foi identificada nas capitais com maior incidência de voos internacionais como São Paulo, Minas Gerais, Ceará e Rio de Janeiro.
Apenas uma pequena parcela dessas introduções, no entanto, resultou nas linhagens que se dispersaram por transmissão comunitária no País. Um novo estudo revela que 76% dos vírus detectados até o final de abril se agrupam em três grandes grupos que foram introduzidos entre o final de fevereiro e o início de março e se espalharam rapidamente pelo País antes que as medidas de controle de mobilidade fossem iniciadas.
Os resultados foram obtidos por uma força-tarefa composta por pesquisadores de quinze instituições brasileiras (em conjunto com instituições britânicas), que realizaram o sequenciamento de 427 genomas do novo coronavírus SARS-CoV-2 de 21 no País. O estudo foi publicado ontem na “Science”, com amostras colhidas de pacientes que testaram positivo para o novo coronavírus entre os meses de março e abril em 85 municípios. Trata-se do maior estudo de vigilância genômica do Covid-19 na América Latina.
Nesse estudo, os pesquisadores combinaram dados genômicos de SARS-CoV-2, com dados epidemiológicos e de mobilidade humana para investigar a transmissão do Covid-19 em diferentes escalas e o impacto das medidas de intervenção não farmacêuticas (INFs) no controle da epidemia no País.
Os resultados demonstram que as INFs, como fechamento das escolas e comércio no final de março, embora insuficientes, ajudaram a reduzir a taxa de transmissão do vírus que foi estimada no início do período em superior à 3 para valores entre 1 e 1,6 tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro. As amostras foram sequenciadas e processadas no Laboratório de Bioinformática do Laboratório Nacional de Computação Científica LNCC/MCTI, coordenado por Ana Tereza Vasconcelos.
Isolamento
O isolamento social, adotado no Brasil desde março, conseguiu reduzir pela metade a taxa de transmissão do coronavírus, de três para 1,6 contaminados, segundo estudo liderado por pesquisadores brasileiros e coordenado pelo Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde). Ou seja, se não fossem adotadas quarentenas e outras medidas de distanciamento social, cada pessoa infectada continuaria a contaminar mais três.
O estudo, publicado na edição da revista Science de 23 de julho, foi detalhado pelo jornal da USP, que entrevistou os principais cientistas envolvidos no trabalho. De acordo com as informações, a pesquisa teve como base análises genéticas feitas a partir do primeiro sentenciamento genético do coronavírus no Brasil, concluído em fevereiro passado. Também foram analisados dados epidemiológicos e de mobilidade dos brasileiros.
Os cientistas identificaram mais de 100 entradas do vírus no país, mas apenas três delas iniciaram a cadeia de transmissão. A maioria das pessoas que trouxeram o coronavírus para o Brasil desembarcou nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Belo Horizonte, onde ficam os aeroportos com mais vôos internacionais.
No total foram identificados 18 subtipos (linhagens) diferentes do vírus em amostras coletadas de março até o fim de abril. No entanto, 76% dos vírus que se dispersaram a partir de março pertenciam a apenas três linhagens, chamadas de “clados”. No total foram coletadas amostras do coronavírus em 85 municípios de 21 estados brasileiros, resultando no sequenciamento de 427 genomas do vírus SARS-CoV-2