Domingo, 20 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 7 de julho de 2025
A queda da cotação do dólar ao longo do semestre fez com que muitos bancos e corretoras começassem a mexer nos modelos de projeção para o fim do ano. Instituições que antes apostavam em um câmbio a R$ 6 ao final de 2025 agora veem a moeda em patamares entre R$ 5,70 e R$ 5,80. O próprio Boletim Focus ilustra esse movimento: em janeiro, a mediana para o câmbio em dezembro era de R$ 6. Na edição da semana passada, era de R$ 5,70.
O C6 Bank também revisou suas estimativas em meados de maio, quando, segundo disse Felipe Salles, economista-chefe do banco, em entrevista concedida ao E-Investidor, a “poeira abaixou” após o “Liberation Day” – como ficou conhecido o dia em que foram anunciadas as tarifas recíprocas dos EUA e o mercado entrou em pânico.
O banco reduziu de R$ 6,30 para R$ 6 a projeção para o dólar ao final de 2025. Mas deve voltar a mexer no modelo em breve para incluir uma tendência de desvalorização global da moeda americana, que parece ter vindo para ficar.
Parte do movimento visto em dezembro hoje é tido como exagero de mercado. “A tendência do dólar vai ser de desvalorização frente às principais moedas globais. Um ritmo menor do que vimos no semestre, mas deve continuar”, diz Salles.
No câmbio, o modelo de projeções do C6 é construído a partir de três variáveis principais: o dólar global, o diferencial de taxa de juros entre o Brasil e os Estados Unidos e o risco fiscal. Mas apenas um deles tem sido o grande responsável pelos movimentos recentes; seja a alta de 2024, seja a desvalorização forte registrada neste primeiro semestre: o movimento da moeda no exterior.
O dólar à vista acumula queda de 12% contra o real, saindo de R$ 6,18 para R$ 5,43 na última segunda-feira, dia 30, fechamento do semestre. E é o exterior que tem ditado o bom momento da moeda brasileira, explica Salles.
“O risco fiscal é relevante, a questão é como capturar isso nos modelos. Nenhuma métrica é perfeita”, diz. “E o diferencial de juros está tendo menos importância na determinação da moeda, porque boa parte da dívida interna é pós-fixada. Quando aumentamos a taxa Selic, encarecemos a dívida, o que piora o fiscal.”
Com as duas pontas do tripé puxando o câmbio para direções distintas, é a trajetória de desvalorização global do dólar que explica o primeiro semestre de 2025.
O real é a terceira moeda que mais se valorizou no mundo em 2025, atrás apenas do rublo russo e da coroa sueca, segundo dados da Elos Ayta Consultoria. Mas um outro indicador reforça o ponto do C6, de que este não é um movimento relacionado ao Brasil: o índice DXY, que mede a performance do dólar contra outras seis divisas fortes, cai quase 10% e está no menor patamar desde 2022.
O que mudou em relação ao último ano, quando a economia ainda resiliente dos Estados Unidos jogava a favor de um dólar mais forte globalmente, foi o choque causado pelo pacote de tarifas anunciado pelo presidente americano Donald Trump ao longo de todo o semestre. O entendimento é de que o choque tarifário vai reduzir o ritmo de crescimento econômico por lá – não o suficiente para uma recessão, mas o suficiente para gerar um fluxo de realocação de capital global.
“Após as tarifas, rapidamente notamos que a economia americana não ia ser mais forte. A dúvida era se seria fraca ou muito fraca; dois mundos completamente diferentes no que diz respeito a moedas de países emergentes”, afirma Salles.
Agora que os primeiros indicadores econômicos começam a refletir isso, o C6 acredita que a perda de força do dólar pode ser um movimento estrutural e deve continuar a ser o fator determinante para o real no curto prazo, independentemente dos fatores domésticos, como já aconteceu neste primeiro semestre. “Em janeiro, o câmbio devolveu o exagero visto em dezembro. Tirando essa correção, o resto do movimento foi praticamente todo externo. Contra o euro, o real mexeu muito pouco”, destaca o economista-chefe.
Prever a trajetória do câmbio é uma das tarefas mais ingratas para as equipes de economia, ainda que as projeções para o dólar ao final de período x ou y sejam muito populares. Em 2024, quando a moeda americana chegou a surpreendentes R$ 6,28 no auge do estresse com a condução da política fiscal do governo, as estimativas do início do ano, em torno de R$ 5, pareciam vindas de outra realidade.
Quem chegou mais perto dos R$ 6,18 a que a moeda americana encerrou 2024 foi o C6 Bank, que vinha desde meados do ano passado defendendo que havia motivos para a cotação ultrapassar os R$ 6 pela primeira vez na história.
O banco recebeu este mês o Prêmio Broadcast Projeções, que considera o índice de acerto das estimativas anuais feitas pelas casas para indicadores como IPCA, taxa Selic, além de Produto Interno Bruto (PIB), balança comercial e outros. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.