Ícone do site Jornal O Sul

O Exército pediu que o Ministério Público Militar investigue o vídeo de um coronel da reserva com ofensas à presidente do Tribunal Superior Eleitoral

Manifestação de Carlos Alves motivou o repúdio de membros da Corte. (Foto: Reprodução)

O Exército informou nessa terça-feira que o general Eduardo Villas Bôas, comandante da Força Armada, pediu ao Ministério Público Militar que investigue um vídeo no qual o coronel da reserva Carlos Alves dispara uma série de ofensas a integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal). No vídeo, a presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministra Rosa Weber, que também atua no STF, é chamada de “salafrária”, “corrupta” e “incompetente”.

“O referido militar afronta diversas autoridades e deve assumir as responsabilidades por suas declarações, as quais não representam o pensamento do Exército Brasileiro. O general Villas Bôas, Comandante do Exército, é a autoridade responsável por expressar o posicionamento da Força”, informou em nota o Exército, que confirmou que o homem que aparece no vídeo é Carlos Alves.

“O Comandante do Exército, por intermédio de seu Gabinete, encaminhou uma representação ao Ministério Público Militar solicitando que fosse investigado o cometimento de possível ilegalidade”, comunicou a assessoria do Exército.

A Segunda Turma do STF, por sua vez, já decidiu, também nessa terça-feira, pedir à PGR (Procuradoria-Geral da República) que investigue a gravação.

“Olha aqui, Rosa Weber, primeiro que eu falo: eu não tenho medo de você, nem de ninguém. Não te atreve a ousar aceitar essa afronta contra o povo brasileiro, essa prova indecente do PT de querer tirar Bolsonaro do pleito eleitoral, acusando-o de desonestidade, de ser cúmplice numa campanha criminosa fraudulenta com o WhatsApp para promover notícias falsas”, avisa o autor do vídeo, em relação a uma ação que tramita no TSE para investigar o suposto disparo em massa de mensagens contra o PT.

Dirigindo-se à ministra Rosa Weber, o militar da reserva prossegue: “Se você aceitar essa denúncia ridícula e tentar tirar Bolsonaro, nós vamos derrubar vocês aí, sim, porque aí acabou”. O autor do vídeo chamou o STF de tribunal de “canalhas” e “vagabundos”, e afirmou não aceitar um resultado que não seja a vitória do candidato do PSL.

Celso de Mello

Na abertura da sessão da 2ª Turma na tarde dessa terça-feira, o decano da Corte, ministro Celso de Mello, considerou “repugnante” o discurso do vídeo, dentre outros adjetivos:

“O discurso imundo, sórdido e repugnante do agente que ofendeu a honra da ministra Rosa Weber, uma mulher digna e magistrada de honorabilidade inatacável, que exerce, como sempre exerceu, a função judicial com talento e isenção, de modo sóbrio e competente, exteriorizou-se mediante linguagem profundamente insultuosa, desqualificada por palavras superlativamente grosseiras e boçais, próprias de quem possui reduzidíssimo e tosco universo vocabular, indignas de quem diz ser Oficial das Forças Armadas, Instituições permanentes do Estado brasileiro que se posicionam acima das paixões irracionais e não se deixam por elas contaminar, paixões essas que cegam aqueles que, a pretexto de exercerem a liberdade de palavra, que constitui um dos mais preciosos privilégios dos cidadãos da República, resvalam para o plano subalterno da prática abusiva e criminosa da calúnia, da difamação e da injúria”.

“O primarismo vociferante desse ofensor da honra alheia faz-me lembrar daqueles personagens patéticos que, privados da capacidade de pensar com inteligência, optam por manifestar ódio visceral e demonstrar intolerância radical contra os que consideram seus inimigos, expressando, na anomalia dessa conduta, a incapacidade de conviver em harmonia e com respeito pela alteridade no seio de uma sociedade fundada em bases democráticas”, prosseguiu.

“Quero estender, bem por isso, a minha pessoal e irrestrita solidariedade à eminente e honrada Ministra Rosa Weber, magistrada de valor, brilho e seriedade incomparáveis cujo inconspurcável patrimônio moral tem o integral respeito de todos os seus colegas deste Supremo Tribunal Federal e da comunidade jurídica em geral, pois os injustos e criminosos ataques à sua honra ilibada representam um ultraje inaceitável a esta Suprema Corte, à ordem democrática e ao Poder Judiciário”.

Celso de Mello também declarou solidariedade a outros três colegas da Corte: “Finalmente, Senhor Presidente, a minha solidariedade estende-se, por igualdade de razões, aos eminentes Ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Luiz Fux, que são magistrados probos e exemplares cuja integridade pessoal e comportamento profissional desautoriza os doestos contra eles assacados e os vilipêndios que criminosamente atingiram, de modo injusto, o patrimônio moral desses eminentes Juízes do Supremo Tribunal Federal”.

Sair da versão mobile