Sexta-feira, 14 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de dezembro de 2018
O futuro ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, escolheu o embaixador Otávio Brandelli para ser o seu secretário-geral, cargo considerado o “número dois” na hierarquia do órgão. Brandelli já atua na pasta como diretor do Departamento de Mercosul. Ele foi anunciado por Araújo em mensagem nas redes sociais.
“Eu tenho a alegria de anunciar o embaixador Otávio Brandelli, diplomata de competência e dedicação amplamente reconhecidas, para futuro secretário-geral das Relações Exteriores”, postou o diplomata. “Ele será o meu braço-direito para implementar a política externa do presidente eleito Jair Bolsonaro.”
O Mercosul já foi alvo de críticas por parte de Bolsonaro e de seu futuro “superministro” da Economia, Paulo Guedes. Em recente entrevista à imprensa, o “guru” de Bolsonaro declarou que o bloco regional não será uma prioridade para o governo federal que assumirá no dia 1º de janeiro.
Brandelli já foi presidente do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) e é diplomata de carreira do Itamaraty. Ele se reuniu na tarde de quarta-feira com Araújo no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), espécie de “quartel-general” da equipe de transição em Brasília.
Como diretor do departamento do Mercosul do Itamaraty, o futuro secretário-geral defendeu a necessidade de um grupo fortalecido de países, enquanto Jair Bolsonaro e alguns de seus principais aliados pregam uma aproximação com Estados Unidos e Israel, por exemplo.
Na visão de alguns aliados do presidente eleito, as relações comerciais do Brasil com os vizinhos da América do Sul trazem um “viés ideológico de esquerda”, o que seria uma herança das gestões dos então presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016).
Polêmica
No final do mês passado, as declarações de Paulo Guedes em uma entrevista no Rio de Janeiro geraram surpresa e desconforto entre membros do Mercosul. Isso porque o futuro ministro da Economia disse que a Argentina e o Mercosul não estão entre os focos principais da futura gestão brasileira. “A prioridade será comercializar com todo o mundo”, frisou na ocasião.
O economista afirmou, ainda, que o bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai é muito restritivo e que o Brasil ficou “prisioneiro de alianças ideológicas”, o que seria ruim para a economia nacional: “O Mercosul só negocia com quem tem inclinações bolivarianas, mas isso não ocorrerá mais a partir do governo de Jair Bolsonaro”.
Quando uma correspondente do jornal argentino “Clarín” perguntou se o Mercosul seria então “desmontado”, Guedes rebateu: “A sua pergunta está mal feita. Você deve questionar é se vamos comercializar somente com a Argentina. A resposta é ‘não’. Somente com Venezuela, Bolívia e Argentina? Também ‘não’. Vamos negociar com o mundo”.
As afirmações do “guru” econômico de Bolsonaro tiveram forte impacto principalmente na Argentina, segundo maior país do Mercosul depois do Brasil. Para o diretor do mestrado em Relações Comerciais Internacionais da Untef (Universidade Tres de Febrero), Félix Peña, essa postura é motivo de preocupação.
“Que um dos países do bloco diga que não dará prioridade ao Mercosul é algo tão sério que deve ser dito pelo máximo escalão do País e das Relações Exteriores”, frisou Peña. “O Brasil está formalmente e legalmente comprometido com o Mercosul, pelos acordos assinados.”
Já o ex-embaixador da argentino no Brasil, Juan Pablo Lohlé, disse que as palavras de Guedes geraram “preocupação e surpresa, servindo de alerta para as autoridades de Buenos Aires.