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Rússia emite os primeiros passaportes para ucranianos que vivem em territórios ocupados

Iniciativa demonstra tentativa do Kremlin de manter o controle total do território capturado. (Foto: Reprodução/Twitter)

A Rússia começou a emitir os primeiros passaportes para ucranianos que vivem em territórios no Sul do país, ocupados após o início da guerra em fevereiro. A informação foi divulgada pela agência de notícias estatal Tass neste sábado (11).

A inciativa faz parte das tentativas do Kremlin manter o controle total do território capturado. As autoridades de Kherson distribuíram cerca de duas dúzias de passaportes russos, conforme a imprensa local, e 30 em Melitopol.

No fim de maio, o presidente russo Vladimir Putin assinou um decreto que simplificava o processo para os moradores de Kherson e Zaporíjia para adquirirem cidadania e passaportes russos.

A medida de Putin repete um esquema já disponível para moradores de áreas controladas por separatistas apoiados pela Rússia nas regiões de Donetsk e Luhansk, na Ucrânia, onde Moscou emitiu cerca de 800 mil passaportes desde 2019.

A Rússia reivindicou em meados de março o controle total da região de Kherson, ao norte da Crimeia, e detém partes da região de Zaporíjia, ao Nordeste da península. Em Kherson, o governador foi deposto e o governo civil-militar disse no início de maio que planejava pedir a Putin para incorporar a cidade à Rússia até o final de 2022.

Após a divulgação do decreto, a Ucrânia prometeu recapturar todo o seu território tomado, e considerou a perda de áreas inadmissível, inviabilizando qualquer acordo de cessar-fogo. Mikhail Podolyak, assessor do presidente e negociador-chefe da Ucrânia afirmou que Kiev não aceitaria ceder a soberania de seu território.

“A Ucrânia não participará desta discussão. Não comercializamos nossos cidadãos, territórios ou soberania. Esta é uma linha vermelha clara”, afirmou em comunicado.

Ucranianos em porão

Mais de dois meses depois que os moradores de Yahidne derrubaram a porta trancada do porão onde o Exército russo os mantinha reféns, a vila está sendo reconstruída, mas as memórias permanecem frescas — e profundamente dolorosas.

Em 3 de março, oito dias após o início de invadir a Ucrânia, as forças russas invadiram Yahidne, uma vila na estrada principal ao norte de Kiev. Por quase um mês, até 31 de março, quando as tropas ucranianas libertaram a cidade, mais de 300 pessoas, 77 delas crianças, ficaram presas em várias salas do porão frio e úmido da escola da aldeia – um escudo humano para as tropas russas ali instaladas.

Dez dos cativos morreram. Entre os presos estavam um bebê e um idoso de 93 anos, segundo promotores ucranianos.

“Este é o nosso campo de concentração”, disse Oleh Turash, de 54 anos, um dos presos, que ajudou a enterrar as pessoas que morreram lá.

Na maior parte do tempo, praticamente não havia luz. Apesar do clima gelado do inverno, disse ele, as pessoas estavam tão apertadas que o calor do corpo era todo o calor de que precisavam.

Porém, nunca havia oxigênio suficiente para respirar normalmente, fazendo com que algumas pessoas desmaiassem e outras, principalmente mais velhas, sofressem alucinações.

“Eles começaram a balbuciar sobre a necessidade de plantar batatas e outras coisas que não podiam fazer”, disse Ivan Petrovich, zelador da escola.

Turash dormia no quarto maior. Tinha a única fonte de ar, um pequeno buraco que as próprias pessoas fizeram, disse Petrovich. Um balde estava do outro lado da sala, um banheiro improvisado para crianças e outros que não podiam esperar até de manhã, quando havia esperança de que os soldados russos deixariam as pessoas usarem os banheiros comuns.

Um registro na porta da sala maior mostrava que 136 pessoas haviam ficado lá, nove delas crianças. Originalmente, o número era de 139, mas foi riscado por causa de três mortes, disse Turash.

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