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Por Redação O Sul | 18 de maio de 2020
Há um grande debate em torno do que é serviço essencial no momento em que apenas o isolamento da maior parte da população pode frear o avanço do novo coronavírus. Enquanto no Brasil ainda se discute se salões de beleza e academias devem ou não abrir as portas, em alguns países o comércio de cannabis manteve suas portas abertas, assim como padarias, farmácias e supermercados.
Mais de uma dúzia de estados norte-americanos concordaram que estabelecimentos que vendem cannabis e dispensários de maconha medicinal devem permanecer abertos – mostrando que, em um momento excepcional e inédito como esse, ela pode ser tão necessária quanto pão, remédios e papel higiênico.
Na Califórnia foi registrado um aumento de mais de 150% na comercialização de cannabis, ainda em março – um número puxado principalmente por mulheres e jovens da geração Z, de acordo com um levantamento do Headset, empresa americana de pesquisa na área, citado em reportagem do jornal The New York Times. Para evitar aglomerações, estados americanos como Massachusetts, Michigan e Illinois regulam serviços de entrega em casa.
Na Holanda, onde a cultura em torno da planta é outra, os coffee shops inicialmente fecharam as portas por serem considerados espaços de sociabilização. Com medo que o tráfico de drogas entrasse no jogo, e de olho na demanda crescente por maconha durante a quarentena, o governo voltou atrás
Para Renato Filev, pesquisadordo do Cebrid (Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas), o viés econômico certamente ajudou a maconha a ganhar esse status durante a pandemia. “Existem cerca de 200 milhões de pessoas no mundo que fazem o uso de maconha, o que corresponde a uma população do tamanho do Brasil”, observa. “A cannabis é um produto essencial, independentemente do confinamento. Caso não fosse, não haveria um mercado ilegal paralelo, bilionário, que se mantém mesmo às custas de toda uma política internacional que visa combater esse tipo de prática.
Na outra ponta, o farmacêutico Murilo Chaves Gouvêa, responsável pelos produtos medicinais feitos à base de cannabis no Brasil, afirma que, pela demanda constante em relação a pedidos de medicamentos, “está mais do que claro que os estabelecimentos de cannabis são serviços essenciais”.
Gouvêa é responsável pelo desenvolvimento dos medicamentos na Abrace (Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança), primeira e ainda única instituição do Brasil autorizada pela Justiça a cultivar maconha para fins medicinais. Há alguns meses, uma empresa privada tinha obtido autorização para o cultivo, mas a liminar caiu em meio à pandemia, antes mesmo do início das atividades.
Com estufas e laboratório instalados em João Pessoa (PB), a Abrace tem se adaptado às circunstâncias para manter a produção. Foram instituídas escalas de trabalho, regime de home office e uso obrigatório de máscaras. “Muitos dos pacientes que se beneficiam dos medicamentos possuem patologias crônicas que precisam de tratamento contínuo”, observa Gouvêa.
Onde o cultivo não pode parar
Se fechasse as portas durante a quarentena, a Abrace deixaria 4,6 mil pacientes sem o alívio e o auxílio necessários para o tratamento de doenças e enfermidades como Parkinson, Alzheimer, psoríase, epilepsia refratária e síndrome de Tourette – além do auxílio no tratamento de alguns tipos de câncer e doenças raras. Para ter acesso a esses produtos, os pacientes precisam de uma receita auditada.
Além do aumento na procura pelos medicamentos, a pandemia trouxe à Abrace muitos pesquisadores de olho em como a cannabis pode contribuir na batalha contra o novo coronavírus. A associação não participa do estudo, mas fornece os insumos necessários para os testes. Atualmente, são quatro pesquisas com foco na Covid-19 aguardando certificação do comitê de ética.
Cauteloso em revelar detalhes da pesquisa, Gouvêa não esconde a animação com a movimentação de uma em particular, prestes a começar os trabalhos. “É um estudo com grande potencial, reflexo de uma visão promissora para os tratamentos relacionados à planta.
Há muitas pesquisas do gênero em desenvolvimento no mundo todo. NO Canadá, um estudo apontou que há princípios ativos da maconha capazes de proteger as células do corpo humano contra o novo coronavírus.