Quarta-feira, 12 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 27 de junho de 2018
Em uma conversa telefônica gravada pela PF (Polícia Federal), o ex-deputado Marcio Junqueira (ex-PP) explica ao interlocutor como “comprar” alguém. “Quando você compra alguém, se você comprar alguém, tem que comprar bem comprado”, afirma.
Junqueira é investigado pela PF – e chegou a ser preso – por supostamente ter tentado comprar o silêncio de uma testemunha da Operação Lava-Jato, o ex-assessor parlamentar do PP José Expedito Rodrigues Almeida, que denunciou um esquema de pagamento de propina a parlamentares do partido.
“Quando você compra alguém, se você comprar alguém, tem que comprar bem comprado, porque esse cabra que se vendeu pra ti se vende pra outro também”, disse Junqueira em conversa com um ex-secretario municipal de Boa Vista (RR).
À Polícia Federal, Junqueira respondeu, sem citar nomes, que estava falando de relações políticas na Assembleia Legislativa de Roraima. E que a frase, embora dita por ele, não condiz com seu pensamento.
Noutro episódio, a Polícia Federal gravou em uma “ação controlada” da Operação Lava-Jato, um diálogo no qual Junqueira trata de repasse de valores e orienta uma testemunha ligada ao partido a mudar o teor de um depoimento – a ação controlada é planejada com o auxílio de um colaborador.
Segundo a Polícia Federal, Junqueira tentou pressionar o ex-assessor parlamentar do PP José Expedito Rodrigues Almeida. O ex-deputado foi preso após ter sido gravado duas vezes pela PF entregando dinheiro a José Expedito, que colaborou com a PF para fazer a gravação.
Segundo Expedito Almeida, o dinheiro – R$ 5 mil na primeira entrega, em 26 de fevereiro, e R$ 1 mil na segunda, em 28 de fevereiro – destinava-se à compra do silêncio dele.
À PF, o ex-deputado negou que tivesse tentado comprar o silêncio de Expedito e disse que o dinheiro era uma “ajuda pessoal” ao ex-assessor.
A PF e a PGR (Procuradoria-Geral da República) afirmam que o diálogo no qual Junqueira aparece conversando com José Expedito reforça a suspeita de que o ex-deputado tentou comprar o silêncio do ex-assessor, o que configura o crime de obstrução das investigações.
De acordo com a PF e a PGR, Junqueira agiu a mando do presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), e do deputado Eduardo da Fonte (PP-PE). Os três foram denunciados no último dia 19 por obstrução de Justiça. Eles negam ter cometido irregularidades.
Naquela ocasião, o advogado de Márcio Junqueira, Roberto Bertholdo, declarou que “surpreende, mais uma vez, que a imprensa tenha tomado conhecimento da denúncia antes da defesa e, também, o fato de a PGR oferecer a denúncia já que não existe nenhum elemento que comprove a alegada obstrução de Justiça”.
Na ação controlada, Junqueira é flagrado orientando José Expedito sobre o que dizer em um eventual depoimento na Polícia Federal. Mais adiante, sem saber que estava sendo gravado, o ex-deputado alerta a testemunha de que ela não pode aparecer com dinheiro.
As entregas de dinheiro ocorreram nos dias 26 e 28 de fevereiro. Entre uma entrega e outra, Marcio Junqueira foi à casa do deputado Eduardo da Fonte, fato destacado no relatório da PF.
Outro fato também apontado pela investigação: no dia 27 de fevereiro, Márcio Junqueira esteve na casa do deputado Eduardo da Fonte.
“Esta visita converge com a afirmação de Márcio Junqueira, captada durante a ação controlada de segunda-feira, segundo a qual procuraria pessoas para tratar dos detalhes do tal documento em que José Expedito negaria as declarações prestadas à Polícia Federal”, diz o relatório da PF.