Domingo, 02 de novembro de 2025
Por Edson Bündchen | 27 de abril de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Há poucos dias, um aluno foi filmado intimidando um professor na cidade de Assis-SP. A cena, viralizada nas redes sociais, de certa forma é a expressão da crescente degradação do ensino no Brasil e corolário do enfraquecimento da autoridade dos professores em sala de aula. Mas o problema não se resume apenas a isso. As condições estruturais que cercam a educação em nosso País são historicamente precárias, e ganharam novos componentes a partir da emergência da sociedade digital e das transformações que a modernidade impôs ao núcleo familiar e seu papel junto aos filhos, reverberando no comportamento, muitas vezes errático, dos alunos nas escolas. Nesse cenário, um outro fator que torna o quadro ainda mais complexo é o gradativo aviltamento dos salários dos professores e as condições sob as quais trabalham. Essa situação ajuda a compreender a pouca atratividade da carreira docente, e evidencia que os problemas que a educação brasileira atravessa terão que ser enfrentados a partir de um entendimento sistêmico da questão, inclusive quanto ao maior envolvimento dos pais e mães no processo de educação dos filhos, tarefa que não pode ficar unicamente sob a responsabilidade das escolas e das autoridades competentes.
A família, embora esteja sob o impacto da fragmentação que a pós-modernidade lhe impôs, ainda é o suporte indispensável para o processo educacional como um todo, uma vez nela residir a formatação de valores que nortearão a conduta dos jovens. Isso, porém, exige uma retomada da autoridade, da legitimidade e da missão indelegável dos pais zelarem pelos filhos, não os deixando como órfãos nas largas avenidas do mundo virtual, ou imaginando que, simplesmente abrindo mão de um acompanhamento mais efetivo da vida escolar dos pequenos, haverá consequente e automática maior autonomia dos mesmos. Há, nesse contexto, um entrelaçamento causal que agrava o atual problema de deseducação no Brasil vinculado à crise provocada pela sociedade cibernética no processo de alienação juvenil. A combinação da onipresença das redes sociais no cotidiano de crianças e jovens, vis-à-vis com pais cada vez mais distantes, tem contribuído para o agravamento de um problema que já era alarmante. Nessa dinâmica perversa, assiste-se a uma segregação cada vez maior entre pais e filhos, com os últimos tendo o tempo e a atenção roubados por aplicativos de celular, muitos deles camuflados como jogos inocentes, mas que podem não apenas promover a perda de foco naquilo que é essencial, mas induzir as crianças a comportamentos sociais temerários. Os pais precisam resgatar a capacidade de saber mais sobre a vida dos filhos, embora essa maior atenção compita com agendas assoberbadas, distrações com seus próprios problemas e a ilusão de que seja possível delegar a educação dos filhos. O ângulo paradoxal do atual fenômeno é que, em paralelo a filhos abandonados à própria sorte, coexistem filhos por demais mimados, também um enorme desafio para professores diligentes.
Como se pode facilmente deduzir, esse é um assunto cuja discussão é inadiável. O futuro do trabalho aponta para uma verdadeira revolução em curso e o preço pela atual negligência com a nossa educação custará muito caro a todos. Como bem pontuou o Prêmio Nobel de Física, Abdus Salam: “Povos sem ciência e tecnologia estão condenados a serem simples fornecedores de matérias-primas e mão de obra barata para países desenvolvidos”. Embora complexo e difícil, priorizar uma educação de alta qualidade é o caminho mais curto para o desenvolvimento do País, mas esse processo não decolará sem que os pais assumam, conjuntamente com boas políticas públicas, o destino da geração mais jovem, não permitindo, indesculpavelmente, que a omissão em relação à educação dos filhos comprometa o futuro destes e do próprio País.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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