Ícone do site Jornal O Sul

Transição energética: o salto civilizatório que o Brasil não pode ignorar

O termo “transição energética” ganhou força na COP21, realizada em Paris em 2015, quando líderes mundiais firmaram o Acordo de Paris. (Foto: Freepik)

O que é transição energética e sua origem

O termo “transição energética” ganhou força na COP21, realizada em Paris em 2015, quando líderes mundiais firmaram o Acordo de Paris, estabelecendo metas para limitar o aquecimento global a 1,5°C. A expressão designa o processo de substituição de fontes de energia poluentes e finitas (como carvão, petróleo e gás) por fontes limpas e renováveis (solar, eólica, biomassa, hidrogênio verde). Mas, na prática, a transição energética acompanha a humanidade desde seus primórdios.

As fases históricas da energia

A história da humanidade pode ser contada pelas suas fontes de energia:

* Força braçal: o corpo humano como motor da sobrevivência.

* Animais de tração: bois e cavalos ampliaram a capacidade agrícola e de transporte.

* Fogo: revolução do cozimento, da metalurgia e da proteção.

* Vento e água: moinhos e rodas d’água impulsionaram a agricultura e a indústria nascente.

* Eletricidade: no século XIX, trouxe iluminação, comunicação (telégrafo, rádio) e motores elétricos.

* Petróleo e derivados: no século XX, viabilizaram carros, aviões, plásticos e a globalização.

* Renováveis modernas: solar, eólica, biomassa e hidrogênio verde, que hoje representam o futuro sustentável.

Cada transição significou saltos evolutivos: o fogo permitiu cozinhar alimentos e fundir metais; a eletricidade trouxe o telefone e a lâmpada; o petróleo viabilizou o automóvel e a aviação. A energia sempre foi o motor da inovação.
A transição obrigatória: impactos dos fósseis

Diferente das anteriores, a transição atual não é apenas uma escolha, mas uma necessidade urgente. Os combustíveis fósseis:

* Liberam bilhões de toneladas de CO₂ por ano.

* Intensificam o efeito estufa, elevando a temperatura média global.

* Provocam eventos extremos: secas prolongadas, enchentes devastadoras, ondas de calor recordes.

* Derretem geleiras e elevam o nível do mar, ameaçando cidades costeiras.

Segundo o IPCC, se nada mudar, o planeta pode aquecer mais de 3°C até 2100, tornando vastas regiões inabitáveis.

O poder da indústria do petróleo

Desde a década de 1920, a indústria do petróleo construiu impérios e financiou sociedades inteiras. Com lucros bilionários, passou a manipular narrativas para manter sua hegemonia:

* Criou mitos e fakenews sobre a inviabilidade das energias renováveis.

* Espalhou desinformação para polarizar a sociedade e travar mudanças.

* Investiu em governos, campanhas políticas e publicidade para perpetuar o consumo de fósseis.

Hoje, diante da crise climática, o que resta a essas corporações é semear discórdias para atrasar a transição.

O impasse automotivo

No centro da disputa estão também as montadoras de veículos. A tecnologia dos carros elétricos já é madura: baterias de longa duração, recarga rápida e custos em queda. Mas a indústria automotiva tradicional reluta em abandonar o motor a combustão, pois:

* O petróleo sustenta cadeias globais de produção e impostos.

* A mudança ameaça lucros e modelos de negócios consolidados.

No entanto, trocar veículos a combustão por elétricos é vital: reduz emissões, melhora a qualidade do ar nas cidades e diminui a dependência de combustíveis fósseis.

O Brasil e a oportunidade verde

O Brasil possui uma vantagem única:

* Matriz elétrica já 80% renovável, baseada em hidrelétricas, eólica e solar.

* Potencial imenso em biocombustíveis e hidrogênio verde.

* Capacidade de exportar energia limpa para a Europa, que busca alternativas ao gás russo e ao petróleo do Oriente Médio.

Nenhum outro país reúne tantos recursos naturais para liderar a transição energética. Mas isso incomoda os impérios tradicionais, pois novos atores surgirão e redistribuirão poder econômico.

Reflexão final

O Brasil tem em mãos um desafio histórico: transformar seu potencial verde em desenvolvimento sustentável. Para isso, é preciso que governantes tratem o tema com seriedade e que a sociedade compreenda que a transição energética não é ideologia, mas sobrevivência e oportunidade.

Se o país souber conduzir esse processo, poderá se tornar protagonista global de uma nova era – uma era em que energia limpa não é apenas opção, mas condição vital para o futuro da humanidade.

Sair da versão mobile