Sexta-feira, 26 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 16 de fevereiro de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
ELE se descuidou e teria pecado por omissão: um erro maiúsculo. Julguei ter o direito de culpa-LO porque, assim, reconheci que ELE existe. E mais: temos fé que ilimitados são seus poderes; mas, quando falha – situação superlativamente raríssima – comete – ELE também – pecado capital (será?).
Errou, quando, no momento da criação, sendo Onisciente e Todo Poderoso, transmitiu o sopro de vida, com exclusividade, ao Homem, dando a sensação (porque assim circulou a notícia) que a Obra Criatura estaria perfeita. Verificou-se no logo dos tempos que, apesar de Sua sabedoria, enganara-se. O Homem, então criado, cometia erros, expondo suas múltiplas falhas e fraqueza.
Não ocultava estar longe do perfeito. Melhor: rigorosamente, poderia até ser padrão de imperfeição.
Foi ELE, propriamente ELE, com sua infinita sapiência, que se apercebeu do erro, Constatou que o Homem teria apenas a si próprio. O projeto esgotava-se num só modelo. Não oferecia sequer variações dentro do próprio gênero. Por isso, a monotonia dos iguais, a inexistência do “efeito espelho” (Sorokin, se não me engano), provavelmente levaria à irresistível demência o fruto da sua criação se não corrigisse logo, a falha. A Sua Criatura vivendo o repetido da uniformização pasteurizada, formaria o batalhão, exclusivo e sem alternativas, dos deprimidos. Não existiria outro destino: a uniformidade não criativa levaria ao silencio tumular dos sem identidade.
Foi por isso que ELE, tão pronto constatou, o ruim que estava e, sobretudo, pelo péssimo que iria ficar, criou a Mulher. Tomou como referência formal (modelo, não) o Homem. Acreditando ter, então, a chance da perfectibilidade, concentrou-se na tarefa, que lhe pareceu viável desde que não repetisse os defeitos masculinos.
Assim, a Mulher, que, por chegar depois, não pudera disputar a vantajosa primogenia, teria uma generosa compensação: seria perfeita!
Nem mesmo ELE poderia avaliar o quanto Sua Filha era (e é) indispensável, inclusive, com sua participação, viabilizando o processo, nos seus reais objetivos: pela perpetuação da espécie. ELA ajuda a fazer realidade a equação (dependendo como no pensamento poético de Machado, del “color de cristal con que se mira”) humano-divina da geração. É sócia igualitária (se não majoritária) dessa missão quase divina.
Mas, e sempre há um mas na vida, pronto a contraditar ou, pelo menos, a limitar o otimismo ilimitado, vizinho da euforia, que está no caso, ante a magia do projeto divino da perfeição. Assim nasceram as imperfeições.
O que ELE não esperava é que, ao se fazer humana, viajando do dever – ser para a realidade, aproximando-se do Homem e acasalando-se com ele na troca de atitudes inerentes à parceria, adquiriu a Mulher antídotos para enfrentar o desafio sempre surpreendente da vida. Com o que se fortaleceu, mas, ao natural, perdeu, também Ela, a perfeição com que fora concebida. Apesar disso, tenho a convicção que continua a ser a melhor imperfeição que ELE criou.
P.S: a respeito, minha memória ajudou-me, lembrando um painel de beira de estrada com um pensamento isolado (diria que sábio e simplório), proclamando com enormes letras pretas em fundo branco: “Quando Deus criou o homem, era isso que ELE teria em mente?”
Tenho minhas dúvidas…
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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