Sexta-feira, 26 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 29 de março de 2018
Em mais um desdobramento da crise do ex-espião russo envenenado na Inglaterra, a Rússia expulsou 60 diplomatas americanos e fechou o consulado dos Estados Unidos em São Petersburgo, informam as agências de notícias Efe e France Presse. Segundo comunicado oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, funcionários americanos terão até o dia 5 de abril para deixar o território.
A reação russa é uma resposta à retaliação de vários países essa semana. Na segunda-feira (26), os Estados Unidos também anunciaram a expulsão de 60 russos de seu território — entre diplomatas e funcionários do governo. O consulado russo em Seatle também foi fechado.
A medida contra a Rússia também foi adotada por Austrália, Canadá, Ucrânia, Noruega, Albânia e 16 países da União Europeia. A reação em bloco é uma retaliação contra o envenenamento de um ex-espião russo na Inglaterra que, segundo Londres, foi arquitetado por Moscou. O governo russo nega envolvimento no caso.
Ainda, fontes do governo americano afirmam que os russos expulsos eram “espiões trabalhando nos EUA sob uma capa diplomática”, de acordo com a Associated Press. Também estão na lista do governo russos que integravam a missão do país nas Nações Unidas.
No último dia 14, a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, anunciou a expulsão de 23 diplomatas russos da Inglaterra. Os contatos bilaterais de alto nível com a Rússia também foram suspensos. Em resposta, Moscou também expulsou 23 diplomatas britânicos e suspendeu as atividades do British Council, a organização internacional do Reino Unido para as relações culturais e oportunidades educacionais, em todo o país.
E o que essa crise vai significar para a Rússia e suas relações internacionais?
Antes de mais nada, trata-se de uma significativa vitória diplomática para a primeira-ministra britânica Theresa May, em um momento de tensas negociações entre Reino Unido e União Europeia por conta do Brexit. A estratégia britânica foi bem-sucedida até agora em acusar Moscou desde o início, mas evitar entraves bilaterais ao lançar o assunto aos fóruns internacionais disponíveis – União Europeia, Otan, ONU e a Organização para a Proibição de Armas Químicas.
Além disso, o episódio parece evidenciar um endurecimento da posição do governo americano no que diz respeito à Rússia – apesar de, na semana passada, Trump ter pessoalmente ligado para Putin para parabenizá-lo pela vitória na questionável eleição presidencial russa.
Segundo Jonathan Marcus, especialista da BBC em assuntos diplomáticos, é possível presumir que parte ou a maioria dos russos expulsos são agentes de inteligência. Por isso, é possível que o impacto das expulsões nas atividades de espionagem russa no exterior sejam consideráveis.
É possível, também, que a Rússia tenha se surpreendido com o grau de solidariedade recebido pelos britânicos no episódio. “Sob os olhos de Moscou, o Reino Unido encontrava-se fraco e cada vez mais isolado internacionalmente; a UE estava distraída com seus próprios problemas; e o governo Trump continuava comprometido com a curiosa falta de vontade de Trump de punir [os russos]”, avaliou Marcus.
“Isso pode ter sido um erro sério de Putin. Em muitos sentidos, estamos assistindo a uma surpreendente mostra de ação conjunta europeia, ainda que o presidente russo possa preferir destacar o fato de nem todos os membros do bloco europeu terem participado [da expulsão].”