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Colunistas Culpa em cartório

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(Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Havia muita esperança quando Michel Temer assumiu (menos para uma minoria que, ideológica ou pragmaticamente, defendia Dilma Rousseff e alegava que teria ocorrido um “golpe de Estado” (apesar de se terem cumpridas todas as exigências da lei eleitoral e o decisório final ter sido prolatado por quem tinha, institucionalmente, poderes para tanto: o Congresso Nacional). O impeachment, além de oportuno e necessário, foi juridicamente irretocável. No entanto, lá se foi mais de um ano, tempo que permitiu chegar-se a uma avaliação da administração Temer.

Estranhamente, o homem que, pela via política, elegeu-se e reelegeu-se várias vezes deputado federal; e mais, pelo voto direto de seus colegas parlamentares, foi guindado, com direito a bis (e a “tris”), à Presidência da Câmara, desmente o seu currículo e faz um governo não só decepcionante mas também cercado de suspeitas e indícios que abalam – e muito – a própria imagem presidencial, hoje bastante denegrida.

Feita a ressalva e, por isso, permitindo que me sinta habilitado (e quase isento) para julgar o desempenho de um governo, estimula-me um questionamento que, dependendo de sua resposta, poderia alterar boa parte do porquê dos fatos que puseram o governo de cabeça para baixo.

Qual era o quadro político em março de 2017? O STF (Supremo Tribunal Federal) homologara delações de indiciados (ex-dirigentes da Petrobras, o “Grupão” – 83 dirigentes, além dos proprietários da empreiteira Odebrecht etc.) e tremiam os suspeitos (muitos deles políticos), tensos com as manchetes do dia seguinte. Os processos que faziam do Mensalão café-pequeno, tendo o ex-presidente Lula em situação desconfortável – para dizer o mínimo minimorum – estariam chegando à reta final (comentava-se dos requintes abusivos exigidos por Lula, cobrando da OAS – empresa muito “generosa” com ele – tanto para o sítio de Atibaia quanto para o triplex do Guarujá o “luxo mais luxo” que, afinal das contas, a sua ex-Excelência se julga merecedor.

Havia no ar uma densa e tensa expectativa: uns (a maioria, creio) torcendo e esperando do juiz federal Sérgio Moro a sentença mais contundente, enquanto outros, previsível minoria, dizendo confiar na inocência (?) do ex-metalúrgico e mantendo um fio de esperança, mesmo desarvorados e temerosos, na absolvição.

É a essa altura do campeonato que os irmãos Joesley Batista e Wesley Batista, donos da JBS/Friboi (que se diz a maior empresa do mundo na produção e comercialização de proteína animal), passam a assumir, surpreendentemente, o centro do palco nacional. E o fazem explodindo denúncia-bomba de tantos decibéis que, momentaneamente, transformou o mensalão, a Odebrecht etc. em maviosos buscapés.

O delator-mor – Joesley – contou, então, sobre um encontro domingueiro, noturno e sigiloso nos porões do Palácio do Jaburu com o presidente da República. “Tête-a-tête”, só os dois e o gravador dissimulado do ex-açougueiro e agora magnata. O diálogo, pelo registro divulgado, tinha o objetivo de comprometer Temer (tarefa que não pareceu muito difícil), desde que atendesse pretensões ilícitas e lucrativas (a moeda era o bilhão) da “família”.

O “antigo carniceiro”, cuja empresa e ele – o seu irmão também – são fregueses de transações hostis à legislação tributária, craques em beneficiar-se de informações oficiais privilegiadas e antecipadas, partícipes de carteis, deu divulgação ao diálogo nada republicano que praticava com o presidente.

Há quem diga que Joesley agia orientado pela Procuradoria da República, enquanto outros creem que houve um aprendizado com a Polícia Federal. O que ocorreu foi uma bomba sobre Temer, que ficou muito perto (pertíssimo) de autoincriminar, contribuindo para ser denunciado por crime penal pelo procurador-geral, perante o Supremo. Por isso, vivem-se dias de tensão, de dúvidas e desencantos. Logo, logo, a Câmara terá de decidir se recebe ou não a denúncia. As fragilidades do presidente estão expostas. A decisão que se cobra dos deputados é a resposta a uma pergunta triste e deprimente: o que será pior: com ele ou sem ele?

P.S. — Muito estranho e pouco divulgado nessa história é o poder empresarial da família Batista, dona de açougues, depois matadouros, seguidos de frigoríficos. Como se tivesse ganho várias Mega-Senas, não só virou a maior do Brasil mas adquiriu 92 indústrias em cerca de 20 países  de três continentes. A família foi beneficiada pelo dinheiro fácil (juros quase zero do BNDES) e farto, além da parceria cúmplice e originária de governos que funcionaram como seus percursores e garantidores, abrindo-lhes o caminho para uma poderosa fortuna no mundo das relações escusas e do enriquecimento ilícito.

Os governos que patrocinaram essa “farra”, verdadeiro facilitário, dando créditos mais do que baratos e – ao que parece – sem fiscalização foram os de Lula e Dilma. Será que a investigação da família Silva, agora sobre Temer, foi uma tarefa generosa, colocando o atual presidente em maus (na verdade, péssimos) lençóis, para não deixar o ex-metalúrgico (que teve bloqueada uma conta bancária de mais de 7 milhões de reais) sozinho no tribunal dos grandes pecadores nacionais?

Enfim, o certo é que as culpas prováveis de Temer não absolvem Lula, nem as culpas já condenadas de Lula absolvem Temer.

cagchiarelli@gmail.com

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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https://www.osul.com.br/culpa-em-cartorio/ Culpa em cartório 2017-08-01
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