Brasil Estados Unidos espionaram até o avião de Dilma
Por Redação O Sul | 6 de julho de 2015
Quando se encontra a bordo de seu avião oficial, a presidenta Dilma Roussef pode utilizar um telefone via satélite da empresa britânica Inmarsat para se comunicar com qualquer outra parte do mundo, em contatos oficiais ou mesmo pessoais. Trata-se de um número restrito, ao qual poucas pessoas costumam ter acesso. Esse perfil exclusivo não impediu, porém, que o aparelho estivesse entre os 29 alvos brasileiros de espionagem pela NSA (Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, na sigla em inglês).
Esta e outras informações constam no mais recente vazamento de dados do site WikiLeaks, ocorrido no sábado. A revelação de que os norte-americanos monitoravam autoridades ligadas ao governo brasileiro no período entre 2010 e 2012 já havia abalado as relações diplomáticas entre os dois países em 2013. Os relatórios, entretanto, haviam sido configurados para ocultar nomes e cargos dos alvos.
De forma diferente dos novos vazamentos relativos à vigilância de governos europeus como o francês e o alemão, no caso do Brasil não houve divulgação de datas e conteúdos de mensagens interceptadas. As revelações do WikiLeaks referentes a Dilma e outros membros da administração federal se limitaram a enumerar os alvos preferenciais da NSA, fato que não tem deixado de motivar ampla repercusão.
Agora, também se sabe que, se a chefe de Estado já não escapava da arapongagem a bordo do Airbus Santos Dumont da FAB (Força Aérea Brasileira), a situação se repetia em terra, sobretudo na época de seu primeiro mandato, em 2011. Além de quatro linhas do gabinete de Dilma no Palácio do Planalto, foram rastreados os celulares de uma secretária e até do assessor pessoal Anderson Dornelles, responsável pelas comunicações privadas da chefe do Executivo.
Reação
Em 2013, Dilma havia reagido de forma contundente ao episódio. Além de cancelar uma visita oficial ao presidente Barack Obama na Casa Branca, ela protestou durante a Assembleia-Geral da ONU em Nova York, em discurso contra o desrespeito à soberania nacional.
Tudo indica, porém, que as novas informações do WikiLeaks não motivarão reações semelhantes. Assessores do Planalto já adiantaram que, ao menos por enquanto, não haverá novo pronunciamento formal sobre o assunto. Por sua vez, o ministro da Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva, declarou que esse é um “episódio superado”.
Ele reprisa, assim, as recentes manifestações da própria presidenta, que visitou o colega Barack Obama na Casa Branca, na terça-feira passada. “Já combinei com Obama que, se ele quiser saber alguma coisa do Brasil, que me telefone”, brincou ela com repórteres durante entrevista coletiva.
A relação de integrantes e ex-integrantes de importantes postos nas áreas econômica, financeira e diplomática do governo petista que tiveram telefonemas e mensagens de e-mail na mira da NSA é bastante abrangente. Inclui o ex-chefe da Casa Civil Antonio Palocci, o atual ministro do Planejamento, Nelson Barbosa (na época secretário-executivo do Ministério da Fazenda), o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general José Elito Siqueira, e o ex-ministro das Relações Exteriores e hoje embaixador do Brasil em Washington Luiz Alberto Figueiredo.
Fontes ligadas ao Planalto acreditam que o grupo tratará o assunto como “página virada”. Palocci, por exemplo, já foi procurado pela imprensa mas optou por não se manifestar. (Marcello Campos com agências)
