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Mundo “Não gosto daqui”, diz o brasileiro deportado dos Estados Unidos que não fala português

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O Ministério da Justiça faz esforço para coibir aumentos abusivos durante a pandemia. (Foto: Divulgação/Ministério da Justiça)

Aos 36, Paul Fernando Schreiner vive há um ano em Niterói (RJ) em um limbo administrativo incapaz de afirmar a sua nacionalidade. Nascido no Brasil na década de 1980, ele foi adotado por um casal de americanos aos 5 anos de idade e levado para Nebraska (EUA). Por mais de três décadas morou nos Estados Unidos sem se naturalizar cidadão americano. Apesar de viver legalmente no país, acabou deportado em 12 de junho passado, sem se despedir da família, com a roupa que vestia e sem nenhum dinheiro no bolso. Apesar de ter nascido no Brasil, Paul não quer ser reconhecido como cidadão brasileiro e nem aprendeu a falar português. “Não gosto daqui de jeito nenhum”, afirma.

Aqui, foi acolhido por pastores missionários e hoje vive na casa de um deles, Segisfredo Wanderley, que luta para garantir uma identidade ao rapaz.

Em agosto do ano passado, ele deu entrada em um pedido de reconhecimento de apátrida – cidadão sem pátria definida –, mas até agora não obteve resposta do Ministério da Justiça, órgão responsável por avaliar esse tipo de reivindicação.

Enquanto isso, Paul vive uma vida sem rumo e sem sentido. Passa o dia na academia ou no shopping “onde o wi-fi funciona melhor”, tem poucos amigos e não pode arrumar emprego justamente por não ter nacionalidade definida. Seus pais americanos enviam dinheiro mensalmente para que ele se mantenha.

A adoção

O sentimento de desgosto que ele tem pelo Brasil é explicado por sua conturbada história de vida. Paul não sabe o dia nem a cidade em que nasceu, não sabe o nome dos pais biológicos e nem da irmã que afirma ter. A única coisa que ele sabe é que nasceu no Brasil, provavelmente no estado do Rio de Janeiro (no documento que ele possui consta Nova Iguaçu), e que foi adotado e levado de um suposto orfanato por um casal de americanos, Roger e Rosanna Schreiner.

Paul diz ter poucas lembranças da sua infância brasileira. A história que contaram aos seus pais é que ele foi criado nas ruas e acolhido por um orfanato, mas ele afirma não se lembrar disso – apesar de ter memórias de já ter comido restos de comida. Diz que sua mãe era uma pessoa muito boa e que sua irmã foi levada “por homens maus”. “Eu não tinha o perfil de uma criança de rua, eu era uma criança saudável. Nem acho que nasci na favela”.

Seus pais adotivos saíram do Brasil com Paul e um único documento que dizia apenas que seu nome era Fernando e que ele havia nascido no dia 15 de janeiro de 1983 – data escolhida pelo casal Roger e Rosanna. Mais nada. “Que orfanato entregaria uma criança para adoção estrangeira sem certidão de nascimento e nenhum outro tipo de documento de registro dessa criança?”, pergunta Paul. Ele questiona a legalidade da adoção, dizendo que seus pais tiveram de pagar 10 mil dólares no processo. “Desde quando as adoções são cobradas? Claramente minha saída do Brasil aconteceu de forma ilegal”, afirma. “Era comum esse tipo de coisa nos anos 1980”, diz.

Paul afirma ter vivido uma infância maravilhosa nos Estados Unidos ao lado dos pais adotivos e dos seus irmãos também adotados. Afirma ter estudado e ter conquistado seu espaço no país. Diz ter quatro filhas e que atuava como treinador de futebol americano para crianças, além de trabalhar com limpeza de piscinas. Se considera um homem bem-sucedido. Paul conversa com as filhas e com os pais pelo menos duas vezes por semana.

De acordo com ele, seus pais não deram entrada no seu pedido de naturalização quando o adotaram porque, naquela época, o processo era judicial, demorava muito tempo e custava muito caro. Os pais teriam preferido esperar mais um pouco. Paul tinha a certidão da previdência social e pagava impostos nos EUA, mas poderia ser deportado, caso cometesse algum crime.

Em 2001, o então presidente Bill Clinton aprovou uma lei que tornava automático o reconhecimento da cidadania para estrangeiros adotados por pais americanos. O benefício se estendia para regularizar crianças com até 18 anos – Paul ficou de fora por apenas seis semanas. O problema se agravou quando ele completou 22 anos e se envolveu com uma menina de 14 anos. Apesar de a relação ter sido consensual, a mãe da garota o denunciou e Paul foi condenado a dez anos de prisão por fazer sexo com menor de idade.

Paul cumpriu a pena integralmente e mudou-se para o Arizona, onde continuou a viver sua vida normalmente até ser preso por agentes do governo americano, com a ordem de deportação. Apesar de viver legalmente no país, Paul havia cometido um crime e, portanto, deveria ser deportado. Por duas vezes o pedido foi negado pelas autoridades brasileiras sob a justificativa de que o Brasil não poderia receber de volta alguém adotado. As informações são da revista Veja.

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