Sexta-feira, 26 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 16 de julho de 2015
Por André Malinoski/Editor de Esporte de O Sul
No dia 8 de abril de 2002, uma segunda-feira, tive a oportunidade de entrevistar Ghiggia pessoalmente. O ex-jogador estava em Porto Alegre para receber uma homenagem na festa Melhores do Esporte, que aconteceu na Sogipa.
Eu e o fotógrafo Ivan de Andrade descobrimos o hotel em que o carrasco do Brasil na Copa de 1950 ficaria hospedado. Esperamos a sua chegada. Ele saltou de uma van com a esposa e na companhia do então técnico da seleção uruguaia Víctor Púa, que acabei ignorando totalmente para conseguir uma exclusiva com Ghiggia.
Conversamos no hall do hotel por algum tempo. A simplicidade e a educação de Ghiggia, uma lenda do futebol e da história das Copas do Mundo, despertaram em mim uma simpatia instantânea. Abaixo, reproduzo a entrevista que saiu no Jornal O Sul no dia seguinte à conversa.
Ghiggia carrega no olhar a glória da Copa de 1950
Ex-ponta-direita do Uruguai – que cravou um punhal eterno no coração do Brasil – não esqueceu o Maracanã e 16 de julho.
Por André Malinoski
Alcides Ghiggia, aos 75 anos, é um senhor simpático. Magro, baixo e com muita ternura, o ex-ponta uruguaio na Copa de 1950 foi homenageado ontem com o Troféu Tesourinha na festa dos Melhores do Esporte.
Foi ele que calou 174 mil pessoas no Maracanã, em 16 de julho de 1950, aos 34 minutos do segundo tempo. Era a final do Mundial entre Brasil e Uruguai. Ghiggia disparou como um raio pela direita e chutou no canto esquerdo de Barbosa. O resto já sabemos. Foi uma tragédia.
O Sul – Que sentimento tem da homenagem como um dos grandes pontas?
Alcides GHIGGIA – Depois de tantos anos que vivi dentro do futebol, é um sentimento enorme que tenho. Esta festa, e se encontrar com tanta gente conhecida, é uma grande satisfação.
O Sul – O que passou por sua cabeça quando viu a bola dentro do gol de Barbosa?
GHIGGIA – Na época me passou que havia feito um gol. Pensei na família e nos amigos. Eu era jovem, não pensei na dimensão que o feito teve. Depois de algum tempo, me dei conta de que tinha feito algo grande para o meu país.
O Sul – O que foi mais importante naquele dia. A festa, a vitória ou a alegria?
GHIGGIA – A vitória, porque foi uma alegria imensa. Para um jogador de futebol, poder jogar uma final de Copa e conquistá-la é uma grande felicidade.
O Sul – É verdade que o então presidente da Fifa, Jules Rimet, entregou o troféu aos uruguaios constrangido?
GHIGGIA – Sim. Eu creio que ele não esperava a vitória do Uruguai. Quando ele estava descendo para o campo estava 1 a 1. Com o empate, o Brasil seria campeão. Ele chegou e o Uruguai já tinha feito 2 a 1. Quando pisou na grama do Maracanã, Rimet não sabia o que dizer.
O Sul – Na sua avaliação, quem é o melhor jogador do mundo de todos os tempos?
GHIGGIA – Para mim, como jogador e pessoa, Pelé. Sempre o observei jogar.
O Sul – O que passa com a Celeste que não vence Copas desde 1950?
GHIGGIA – O problema é que não há grandes jogadores. Então, por sorte, depois de tantos anos o Uruguai conseguiu a classificação à Copa. A esperança é a última que morre. Esperamos do Uruguai uma boa apresentação.
O Sul – Que mensagem o senhor tem para a torcida brasileira quase 52 anos depois da tragédia do Maracanã?
GHIGGIA – Não se pode dizer muito depois de tantos anos. O Brasil ganhou várias Copas do Mundo. Tem uma seleção que ultimamente ganha tudo. Creio que os brasileiros estão contentes.
O Sul – Não sente saudade de voltar ao Maracanã?
GHIGGIA – Já voltei quatro vezes. É um estádio enorme, que me impressiona muito. Sempre que fui fiquei alegre, porque encontrei amigos. Me tratam bem. É uma satisfação que tenho.
O Sul – Quer voltar novamente?
GHIGGIA – Sim. Sempre que puder, voltarei.
Saiba mais:
Leia aqui sobre a morte de Ghiggia, que aconteceu nesta quinta (16). O ex-jogador morreu no mesmo dia em que se completa o aniversário de 65 anos da derrota do Brasil para os uruguaios na final da Copa de 1950.