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24% dos brasileiros dizem não ter comida suficiente em casa

Os dados sobre a fome no Brasil foram divulgados pelo IBGE. (Foto: Reprodução)

Pesquisa Datafolha divulgada pelo jornal “Folha de S.Paulo” nesta sexta-feira (28) aponta que 24% dos brasileiros afirmam não ter comida suficiente em casa para alimentar a família.

Os dados apontam que a parcela de brasileiros que avalia a quantidade de comida na sua residência como insuficiente nos últimos meses recuou, enquanto a parcela que avalia que foi mais que o suficiente vem crescendo.

Ao todo, 24% responderam não ter a quantidade de comida necessária (eram 27% em setembro). A maioria, 56%, afirmou que tem alimento suficiente (eram 57% em setembro). E 20% disseram que têm mais do que o suficiente (eram 16% em setembro) — o indicador é o mais alto da série, iniciada em maio de 2021.

Entre os que declararam ser insuficiente a quantidade de comida nos últimos meses, observam-se índices mais altos entre as melhores que entre os homens (29%, ante 18%) e entre os menos instruídos (38%), mais pobres (36%), moradores da região Nordeste (35%), desempregados (39%) e aqueles que recebem o Auxílio Brasil (34%).

A pesquisa ouviu 4.580 pessoas, entre 25 e 27 de outubro, em 252 municípios. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%. O código da pesquisa na Justiça Eleitoral é: BR-04208/2022.

Combate

Ao mesmo tempo em que o governo de Jair Bolsonaro (PL) focou em transferência de renda — com o Auxílio Brasil, turbinado neste ano eleitoral — deixou de lado outros programas de combate à fome.

Enquanto o orçamento para transferência direta de renda cresceu entre 2019 e 2022, a verba para seis ações cruciais para a segurança alimentar caiu 38%. Em alguns casos, os programas foram completamente desmantelados.

Essas ações, que tinham programação de gasto de R$ 9,4 bilhões em 2019 em valores já corrigidos pela inflação, sofreram redução sucessivas e ficaram com orçamento de R$ 5,8 bilhões em 2022.

E no próximo ano poderão ter ainda mais reduções: o orçamento previsto para 2023, que ainda pode sofrer ajustes no Congresso, é de R$ 4,4 bilhões e, se confirmado, será uma redução de 52,9% sobre a dotação de 2019.

Em contrapartida, o orçamento da transferência de renda cresceu, mas o programa perdeu o foco. Em 2019, já em valores corrigidos, o Bolsa Família tinha previsão de gasto de R$ 37,5 bilhões. Esse número aumentou 149%, passando para R$ 93,5 bilhões em 2022.

Além disso, nesse período, o governo fez gastos para além do teto, com o Auxílio Emergencial durante a pandemia, e também flexibilizou regras fiscais para poder gastar mais com a ação, atendendo a ambições eleitoreiras do presidente.

Nos seis programas com foco mais estruturante (aquisição de alimentos, alimentação escolar na educação básica, ações de proteção social básica, ações de proteção social especial, formação de estoques públicos com agricultura familiar, construção de cisternas), funcionários relatam também desarticulação na gestão, trocas constantes nas equipes e falta de continuidade de projetos, além de baixo empenho das poucas verbas destinadas, o que leva a novos cortes no orçamento do ano seguinte.

Os programas perderam R$ 3,6 bilhões, na comparação do orçamento de 2022 com o de 2019.

Na agricultura familiar, houve redução na compra de alimentos para a formação de estoques públicos, que poderiam ajudar no controle de preços. Alimentos básicos no prato dos brasileiros, arroz e feijão não possuem mais estoques públicos, de acordo com os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Em 2019, o orçamento previa R$ 1,74 bilhão para essas compras, mas o governo só usou 12,8% verba e só desembolsou R$ 224 milhões. O mesmo ocorreu em 2021: da previsão de R$ 1,6 bilhão, só foram gastos R$ 136,2 milhões.

Como o governo não usa esses valores, os orçamentos encolheram. Para 2022, foi autorizado o gasto de R$ 383,3 milhões, dos quais foram utilizados, até o momento, R$ 80,6 milhões.

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