O Brasil está estagnado há uma década entre os piores níveis de aprendizado avaliados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). De acordo com o resultado do teste de 2018, divulgado nesta terça-feira, 43% dos participantes brasileiros não aprenderam o mínimo necessário nas três áreas do conhecimento testadas: Leitura, Matemática e Ciências. Neste mesmo quesito, a média dos países que formam a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de apenas 13%.
Ao todo, 78 países e economias realizaram a avaliação — nem todos, como o Brasil , compõem a OCDE, que é responsável pela aplicação do Pisa. Como o teste foi feito em 2018, não inclui a gestão Jair Bolsonaro, que tem como meta incluir o Brasil no grupo.
A média brasileira ficou em 413 no quesito Leitura (57º do mundo), 384 em Matemática (70º) e 404 em Ciências (64º). As notas são levemente mais altas do que o último resultado, de 2015, mas insuficientes para serem consideradas um avanço, segundo o relatório da OCDE.
O Pisa foi realizado por cerca de 10 mil alunos brasileiros de escolas públicas e privadas, com idades entre entre 15 e 16 anos.
“No Brasil, o desempenho médio em matemática melhorou no período 2003-2018, mas a maior parte dessa melhoria ocorreu até 2009. Depois, em matemática, como em leitura e em ciência, o desempenho médio ficou estável”, diz o texto.
Desempenho mínimo
O pior desempenho, considerando o aprendizado mínimo de apenas uma avaliação, foi em Matemática. Do total de alunos participantes, 68,1% não conseguiram esse patamar.
Isso significa que não conseguem usar algoritmos, fórmulas, procedimentos ou convenções básicas para resolver problemas que envolvam números inteiros — por exemplo, calcular o preço aproximado de um objeto em uma moeda diferente ou comparar a distância total entre duas rotas alternativas.
Mais de 90% dos estudantes em Pequim, Xangai, Jiangsu e Zhejiang (China), Hong Kong (China), Macau (China) e Cingapura, e perto de 90% na Estônia, alcançaram esse nível. Em Ciências, 55,3% dos brasileiros não atingiram a aprendizagem mínima. Assim, eles não conseguem demonstrar conhecimento epistêmico básico, não sendo capazes, entre outras habilidades, de identificar questões que podem ser investigadas cientificamente.
Já no quesito Leitura, o melhor desempenho do Brasil, metade dos estudantes não atingiu a nota mínima esperada para essa idade. Assim, não conseguem nem identificar a ideia principal em um pedaço de texto.
Quando atingem esse nível de leitura, os alunos poderiam ainda “interpretar o significado em uma parte limitada do texto quando a informação não é proeminente, produzindo inferências básicas”. A boa notícia é que, em 2015, esses percentuais eram um pouco maiores: 70,25% em Matemática, 56,6% em Ciências e 50,99% em Leitura.
Desigualdades
O relatório da OCDE apresenta ainda um índice de desigualdade do desempenho de alunos mais pobres em relação aos mais ricos. Quanto mais próximo de 1, mais parecido é o resultado desses grupos. No entanto, quanto mais próximo de 0, maior a prevalência do desempenho de estudantes com melhores condições econômicas.
Em Matemática, esse índice está em 0,26. Dos 78 países participantes, somente dez (Argentina, República Dominicana, Guatemala, Honduras, Panamá, Peru, Paraguai, Filipinas, Camboja e Zâmbia) têm níveis piores nesse quesito.
Em Leitura, o valor está em 0,45. Segundo o relatório, essa diferença corresponde a 97 pontos — o que significa dois anos e meio de estudos. A média da OCDE é de 89 pontos. Em 2009, essa diferença era de 84 pontos no Brasil, e de 89 na média da OCDE.