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800 mil pessoas tiram a própria vida no mundo a cada ano, segundo a Organização Mundial de Saúde

Anthony Bourdain foi encontrado morto em Kaysersberg, na França. (Foto: Reprodução)

A morte do chef e apresentador americano Anthony Bourdain, que se suicidou com um cinto de roupão no banheiro do hotel onde estava hospedado, em Kaysersberg, na França, causou forte comoção no mundo poucos dias depois de outra personalidade dos EUA, a estilista Kate Spade, ter morrido em circunstâncias similares – tendo deixado um bilhete para a filha – em Nova York, aos 55 anos. Admirado na área da gastronomia, o carismático apresentador foi encontrado morto em um hotel de Estrasburgo, na França, onde gravava um episódio de seu programa de TV. Os dois casos seguidos envolvendo celebridades admiradas jogaram luz sobre o crescimento dos suicídios nos EUA e no mundo.

Um levantamento do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano revelou que, entre 1999 e 2016, o número de suicídios aumentou 25% no país. Houve alta em todos os estados americanos, exceto o de Nevada. Só em 2016, dado mais recente disponível, quase 45 mil pessoas se mataram nos EUA, o dobro do número de vítimas de homicídio. No mesmo ano, o Brasil registrou 10.5 mil suicídios.

Anthony Bourdain movimentou a gastronomia mundial em 2001, quando lançou o polêmico livro “Cozinha confidencial — Uma aventura nas entranhas da culinária”, onde contava os bastidores das cozinhas de restaurantes de Nova York, incluindo uso de drogas e até relações sexuais. Mas foi em 2013 que, definitivamente, caiu nas graças do público com o programa de TV exibido na rede CNN “Parts unknown”, no qual visitava diversos países do mundo em busca de novos sabores. A vida cercada de sucesso, holofotes e privilégios, no entanto, não impediu que ele chegasse a um ato extremo que vitima uma pessoa a cada 40 segundos em todo o mundo, segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde). As estatísticas dão a dimensão de um tema complexo, ainda pouco discutida na sociedade.

” suicídio acontece e com pessoas que sequer imaginávamos. Uma pessoa contente não necessariamente é uma pessoa feliz”,  afirma a psiquiatra Analice Gigliotti, diretora médica do Espaço Clif. “Tenho pacientes, aparentemente felicíssimos, que me dizem que estão com vontade de se matar. Ser sorridente não é ser feliz, ser sociável também não. Como a pessoa se sente por dentro é totalmente diferente. O mundo interno de uma pessoa é um mundo a ser explorado.”

Maior incidência na meia-idade

Os dados estatísticos do CDC sobre suicídio mostram que mais americanos, de todas as faixas etárias, entre 10 e 75 anos, cometem suicídio. No entanto, a maior incidência é entre adultos de meia-idade, como Bourdain e Kate Spade.

“São dados alarmantes. O suicídio é uma das dez causas principais de morte nos EUA, e uma das três causas que, de fato, estão aumentando recentemente, além de Alzheimer e overdose de drogas. Por isso consideramos um problema de saúde pública, que está ao nosso redor”, afirmou Anne Schuchat, vice-diretora do CDC.

De acordo com Schuchat, muitos fatores podem aumentar os riscos de alguém cometer suicídio, como problemas de relacionamento, financeiros ou profissionais. O abuso de drogas e transtornos mentais, como a depressão, também podem estar associados. Passar pelo fim de um relacionamento ou perder um emprego podem se tornar um gatilho para o suicídio em casos extremos.

A psiquiatra Analice Gigliotti observa que, em uma equação que resulta em um suicídio, há muitas variáveis que se fortalecem em um contexto de fragilidade, nem sempre percebido pelos outros:

“Em geral, pessoas que tentam suicídio apresentam uma vulnerabilidade individual, seja porque vivenciam um transtorno psiquiátrico, por terem uma personalidade mais impulsiva, ou por estarem usando alguma substância que faz com que estejam mais impulsivas naquele momento. Nos casos em que não há nenhum desses fatores e ainda assim o suicídio acontece, pode estar relacionado a alguma situação extremamente dramática. Há pessoas mais resilientes a essas situações e outras menos, a depender da rede de apoio que têm.”

No Brasil, média de 11 mil casos por ano

Dados da OMS mostram que, no mundo, cerca de 800 mil pessoas se matam anualmente. Estatísticas de 2015 mostram que cerca de 78% dessas mortes aconteceram em países de baixa e média renda. No Brasil, o Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde registrou em 2016, mesmo ano considerado na pesquisa do CDC americano, 10.575 suicídios, um pouco menos que no ano anterior, quando houve 11.178 mortes do tipo.

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