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A ascensão e queda de Eduardo Cunha, um dos políticos mais poderosos do País

STF determinou o afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do mandato de deputado federal. (Foto: Reprodução)

A crise política brasileira ganhou mais um capítulo nesta quinta-feira (5), quando o ministro do STF (Superior Tribunal Federal) Teori Zavascki determinou o afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do mandato de deputado federal.

Cunha é réu no STF pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Ele também é acusado de ter recebido propina no esquema da Petrobras investigado pela Operação Lava-Jato.

A liminar concedida pelo ministro atendeu a um pedido feito em dezembro pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Ele acusa Cunha de usar seu cargo na Presidência da Câmara para “constranger, intimidar parlamentares, réus, colaboradores, advogados e agentes públicos com o objetivo de embaraçar e retardar investigações”.

“Fora, Cunha”.

Em 1992, já havia um “Fora, Cunha”. Naquele ano, em meio à turbulência em torno do processo de impeachment de Fernando Collor de Mello, o Sindicato dos Trabalhadores em Comunicação do Rio de Janeiro exigia a saída de Cunha da presidência da companhia telefônica estadual. Na época, ele foi envolvido, pela primeira vez, em um escândalo de superfaturamento.

Hoje o “Fora, Cunha” é uma hashtag, e o economista se tornou o poderoso presidente da Câmara dos Deputados, o homem à frente da votação de 17 de abril que pavimentou o caminho que tende a levar o País a mais um processo de impeachment – a decisão, daqui para a frente, está a cargo do Senado.

Agora, porém, com seu afastamento, o futuro do principal opositor da presidenta Dilma Rousseff na longa e cansativa batalha do impeachment é incerto – assim como o papel que exercerá daqui em diante nos bastidores da crise política do País.

Seja como for, para o ex-deputado Roberto Jefferson, condenado no processo do mensalão, Cunha foi o “adversário mais à altura” que o PT já enfrentou em seus 13 anos de governo.

“Lula nunca esperou encontrar um bandido da mesma qualidade moral, intelectual que ele”, disse Jefferson em recente entrevista.

Cunha sempre foi aplicado. Estuda os regimentos da Câmara com afinco, como na época em que era um estudante discreto, de cabelos compridos e óculos “fundo de garrafa” que sempre tirava boas notas.

Mas nada em seu comportamento escolar nos anos 1970 (ele nasceu em 1958; em setembro completa 58 anos) indicava que Cunha estaria hoje no centro do noticiário político do País por seu papel de principal opositor ao Poder Executivo e por conduzir o processo de admissibilidade do impeachment enquanto ele mesmo é réu no STF.

Acusações.

Cunha é acusado, na Lava-Jato, de receber propinas milionárias: por um contrato de navios-sondas da Petrobras teria recebido 5 milhões de dólares; das empresas ligadas ao Porto Maravilha (no Rio de Janeiro), a soma chegaria a espetaculares 52 milhões de reais. Como se não bastasse, seu nome figura na lista de offshores reveladas pelos Panama Papers.

Ano que vem, a Netflix promete lançar uma série inspirada na Lava-Jato. A criação e direção serão de José Padilha (“Tropa de Elite”, “Narcos”). Já a trama do roteiro tem sido escrita, no dia a dia da política nacional, com a atuação de Cunha. E ninguém, até aqui, consegue prever o desfecho dessa história. (Folhapress)

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