No Salão Verde da Câmara dos Deputados, duas ausências chamam a atenção: na galeria dos ex-presidentes da Casa, faltam dois retratos – ambos de parlamentares que acabaram presos. O conjunto começa com pintura do deputado Pereira da Nóbrega (1760-1826), que exerceu o cargo em 1826, e termina em foto do petista Marco Maia (RS), que presidiu a Casa em 2011 e 2012. À frente da Câmara entre 2013 e 2014 e entre 2015 e 2016, respectivamente, os ex-deputados Henrique Eduardo Alves (MDB-RN) e Eduardo Cunha (MDB-RJ) não estão na coleção de fotos.
Além de serem emedebistas, terem sido deputados e presidido a Câmara, Cunha e Alves acumulam outra semelhança: ambos foram presos. Cunha foi detido em novembro de 2016 pela Operação Lava-Jato. Hoje, está preso no Complexo Médico Penal de Pinhais, no Paraná.
Ele já havia sido afastado da presidência da Casa, renunciado ao posto e cassado no plenário. Meses antes, comandou a sessão de abertura do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).
Cunha foi acusado de receber propina de US$ 1,5 milhão em um negócio da Petrobras em Benin, na África. Além do recebimento do dinheiro, ele também foi condenado porque teria ocultado os valores entre 2011 e 2014, enquanto deputado, em contas na Suíça. O processo estava no STF (Supremo Tribunal Federal), mas, com a cassação do peemedebista e a perda do foro privilegiado, desceu para a primeira instância, na Justiça Federal do Paraná. Ainda enquanto deputado, Cunha vinha negando irregularidades e dizendo que as contas na Suíça pertencem a trusts (instrumento jurídico usado para administração de bens e recursos no exterior), e não a si próprio.
O ex-parlamentar é réu, ainda, em outras duas ações. Na primeira, é suspeito de ter recebido propina em contratos de aquisição de navios-sonda pela Petrobras junto a um estaleiro sul-coreano. Na segunda, no âmbito da Operação Sépsis, desdobramento da Lava-Jato, Cunha também é suspeito de ter recebido propina em esquema de fraude envolvendo o Fundo de Investimentos do FGTS da Caixa.
Henrique Alves foi alvo da Operação Manus em junho de 2017. O ex-ministro nos governos Dilma e Michel Temer (MDB), cumpriu prisão preventiva em Natal, mas decisão do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) de quinta (3) transformou sua detenção em domiciliar.
Outros ex-presidentes da Casa também estão enrolados com a Justiça, mas são retratados no Salão Verde.
Marco Maia, antecessor dos dois no cargo, foi alvo de busca e apreensão na Lava-Jato, em 2016. Ele teria recebido R$ 1,35 milhão em pagamentos indevidos da Odebrecht, segundo delatores.
O senador tucano Aécio Neves (MG) presidiu a Câmara entre 2001 e 2002. Hoje, é réu no Supremo Tribunal Federal, acusado de corrupção e obstrução de Justiça.
Temer comandou a Casa três vezes: consecutivamente de 1997 a 2001 e depois entre 2009 e 2010. Em 2017, foi alvo de duas denúncias da Procuradoria-Geral da República, barradas em votação no plenário por deputados.
Procurada, a Câmara informou que os retratos não foram colocados por “problemas técnicos”.
“A impressora especial que faz a reprodução das fotos está com defeito. Já há um processo de aquisição da peça necessária ao funcionamento da máquina para reposição, mas ainda não foi concluído.”
A foto dos dois ex-presidentes consta da galeria online, no site da Câmara.
