Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 14 de março de 2018
Klaus Schwab, o homem que criou o Fórum Econômico Mundial em 1971 e fez dele um evento central para as decisões políticas e econômicas globais, antevê um mundo em que a China assumirá a liderança econômica e no qual o conceito de direita e esquerda está superado.
O cenário que o engenheiro e economista alemão descreve se divide entre aqueles que defendem o passado — os populistas, embora ele evite a palavra — e aqueles que se preparam para um futuro no qual educação tecnológica, paridade de gênero e inclusão social são questão de sobrevivência econômica.
Prestes a completar 80 anos, Schwab veio ao Brasil para abrir o capítulo latino-americano do Fórum, nesta quarta-feira (14), dia em que lançou no País o livro “Aplicando a Quarta Revolução Industrial”, sobre os efeitos da evolução digital no trabalho e na produção.
1) A decisão dos EUA de impor novas tarifas sobre o aço e alumínio pode monopolizar o Fórum em São Paulo?
Esta é uma das questões com as quais nos preocupamos, integrada a um contexto mais amplo. Temos hoje uma transição de um mundo com polo único para um mundo multipolar, no qual cada um segue seus interesses. Quando o presidente [Donald Trump] fala em guerra comercial, é sintoma disso.
2) A decisão causará nova turbulência no comércio global?
Pode criar um efeito dominó. A chave é manter o compromisso com o sistema de regras para a economia. Podemos até mudá-las se sentirmos que não somos tratados de forma justa, mas tem que ser por meio de negociação.
3) O que é urgente reformar na América Latina?
Antigamente tínhamos uma divisão política entre esquerda e direita. Mas capitalismo e socialismo são ideologias criadas no contexto da Primeira Revolução Industrial [no século 18]. Hoje estamos na Quarta Revolução Industrial, e as linhas divisórias não são mais entre direita e esquerda, são entre aqueles que querem defender o passado e aqueles que querem se preparar para o futuro.
4) O Brasil está ficando para trás?
O Brasil está fazendo algumas mudanças necessárias, como tornar as suas leis trabalhistas mais flexíveis, mas todo governo deveria fazer o máximo para estimular a inovação e o empreendedorismo.
Isso significa flexibilizar o processo para que empreendedores montem empresas, criar um sistema tributário que permita ao empreendedor assumir riscos, e transformar a educação — o sistema é antiquado no mundo todo.
5) Os EUA hoje tendem ao protecionismo, enquanto a China mostra interesses globais. A China pode vir a ter mais poder econômico do que os EUA?
A China já tem um PIB [Produto Interno Bruto] em paridade de poder de compra comparável ao dos EUA, e a China já está de fato se preparando para o futuro. Em Pequim, há uma área que deve chegar a 100 km para incubadoras. A China também já reconhece que a inteligência artificial deve ser muito bem sucedida. Olhando para o futuro, você vê que a China está se preparando para assumir a dianteira em tecnologia.
6) Os participantes do encontro anual do Fórum Econômico Mundial em Davos pareceram otimistas, mas desde então tivemos turbulências. O senhor vê risco de uma bolha explodir?
Não diria que é bolha, mas a economia opera em ciclos, e estamos em um longo ciclo de recuperação econômica que pode estar no fim. E há a questão da dívida. O total de endividamento de governos, famílias e empresas equivale a 200%-250% do PIB [global]. Não sabemos se haverá outra desaceleração econômica, mas, se houver, não dá para reduzir juros [para estimular a economia], pois isso foi feito na última crise, e as taxas já estão baixas. E se agirmos para evitar a dívida [subindo juros], não sabemos qual será o efeito — a volatilidade voltou às bolsas depois de aumentos modestos nas taxas.