A demanda por dólares na Argentina atingiu o maior nível desde 2019, após o presidente Javier Milei praticamente eliminar as restrições cambiais no país, que enfrenta crises recorrentes e uma histórica desconfiança da população em relação ao peso argentino. A medida provocou uma corrida às casas de câmbio e bancos, refletindo o forte interesse da população em proteger seu poder de compra por meio da moeda norte-americana.
Segundo dados divulgados pelo banco central da Argentina, cerca de um milhão de argentinos compraram um total líquido de US$ 1,9 bilhão em abril. Esse número impressiona ainda mais quando comparado ao mês anterior: em março, apenas 34 mil pessoas haviam adquirido um total de apenas US$ 6 milhões. A drástica mudança de comportamento reflete o impacto imediato da nova política cambial.
O presidente libertário anunciou a flexibilização dos controles em 11 de abril, após conseguir um importante pacote de financiamento de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Entre as medidas eliminadas estava o antigo limite de US$ 200 por pessoa para compras de dólares — uma regra imposta durante o governo de Mauricio Macri, em meio à instabilidade do mercado durante sua fracassada tentativa de reeleição contra um adversário peronista.
Segundo o relatório do banco central, aproximadamente metade dos dólares adquiridos permaneceu no sistema bancário argentino, o que levou a um crescimento de US$ 1 bilhão em depósitos. Isso indica que, apesar da alta demanda, muitos argentinos optaram por manter o dinheiro em contas formais, e não fora do sistema.
Eliminar os controles — conhecidos localmente como “el cepo” — foi uma jogada ousada de Milei, especialmente em um momento em que o país se prepara para eleições legislativas em outubro. Sua administração, apesar das reformas econômicas liberais, tem enfrentado dificuldades para acumular reservas em moeda forte nos últimos meses, o que torna a situação ainda mais delicada.
Para Marcos Buscaglia, cofundador da consultoria Alberdi Partners, sediada em Buenos Aires, as compras de US$ 2 bilhões “não são nem surpreendentemente altas nem surpreendentemente baixas, considerando que foi o primeiro mês sem o cepo.”
A corretora local Portfolio Personal Inversiones (PPI) observou que, historicamente, a procura por dólares aumenta em períodos eleitorais. “Devemos esperar uma maior demanda por dólares na véspera das eleições de meio de mandato em 26 de outubro,” escreveram os analistas da PPI liderados por Pedro Siaba Serrate. “Aguardamos os dados de maio para tirar conclusões sobre uma possível estabilização na demanda por dólares.” (As informações são da agência Bloomberg)