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A culpa é sempre do mordomo

Tadeu Aguiar interpreta Xavier na novela “Babilônia”. Seu personagem faz questão de ser chamado de copeiro. Crédito: Reprodução

Afrase “Nunca vi, nem comi. Eu só ouço falar”, em que o Zeca Pagodinho brinca sobre o caviar, poderia ganhar uma nova versão para falar dos mordomos, que muita gente só conhece pela telinha. Há quem diga que eles estão em extinção na vida real e a dúvida ganha força porque eles continuam tendo destaque na ficção.
Depois de Crô (Marcelo Serrado), de “Fina Estampa”, Silviano (Othon Bastos), de “Império”, e Escobar (Norival Rizzo), de “Alto Astral”, agora quem está no comando da serventia das madames é Xavier (Tadeu Aguiar), em “Babilônia”, e Júnior (Frank Menezes), em “I Love Paraisópolis”.

“Quantos mordomos você conhece? Quantos amigos seus têm um?”, perguntou uma senhorinha para outra. Se Aguiar estivesse por lá, diria a ela que eles estão na ativa, sim. “Conheço pessoas que ainda têm mordomos. Mas agora eles são chamados de copeiros. Eu mesmo contrato um [que cobra 250 reais por sete horas de serviço] quando recebo pessoas na minha casa. Acho bacana essa coisa da etiqueta, de servir à francesa, de tirar o prato pela esquerda e colocar pela direita”, conta Aguiar – que na trama de “Babilônia” faz questão de ser chamado de copeiro pela patroa, Consuelo (Arlete Salles) – apesar de achar que a crise enfrentada pelos brasileiros não comporta esse tipo de empregado doméstico.

Nem mesmo “Alfreeedo”, do comercial do papel higiênico Neve, Tropeço, da família Addams, ou Alfred Pennyworth, do filme do “Batman”, saberiam explicar por que eles estão desaparecendo das casas de família. O socialite Bruno Chateaubriand entra na discussão e defende que mordomo é coisa do passado: “Hoje em dia não tem mais, né? Mordomo ficou lá na série britânica ‘Downtown Abbey’. Essa figura realmente está só na televisão. Muitos serviços são terceirizados também. Não tem mais tanto aquela coisa da pessoa que vive com a família, sabe tudo dela, aquela figura que é meio discreta, meio indiscreta, sabe?” Para Othon Bastos, que viveu o mordomo Silviano, o número é inexpressivo, mas ele acredita que ainda existam alguns espalhados pelo País.

A visão dos profissionais.
Acostumado a trabalhar com pessoas da alta sociedade, o mordomo Raimundo Mendonça, há mais de 20 anos na profissão, diz que o mercado está cada vez menor e menos qualificado. “É complicado, porque hoje as pessoas não sabem nada. Antigamente, as casas tinham regras, não se usava sandália de dedo, ninguém andava sem camisa, tinham que saber atender o telefone. O último mordomo que eu vi foi da Lily Marinho. Agora, só tem copeiros, e são raros. Os que ainda trabalham fixos estão nas casas dos embaixadores, socialites e desembargadores”, esclarece Mendonça.

Os salários deles, que variam de 2,5 mil reais a 6 mil reais, deixam o sonho de ter um mordomo cada vez mais longe. Mas Alexandre Salles, também há mais de duas décadas anos no ramo, dá dicas para não fazer feio, com ou sem mordomo. “O arranjo de mesa não pode ser alto, porque as pessoas vão querer se olhar enquanto conversam. O talher deve ser usado de fora para dentro. Tem gente que usa o de sobremesa na hora da entrada, isso atrapalha muito a gente, que tem que lavar tudo e levar de novo para a mesa”, aponta. “Comer o enfeite do canapé, aquele tomatinho e a salsinha, e deixar o resto na bandeja é horrível. Mas, para mim, nada é pior que acender um cigarro à mesa. Nós, mordomos, temos de ser neutros. A gente escuta muita fofoca, briga por causa de herança, mas somos os homens de confiança, não podemos comentar nada. Tem umas senhoras de idade que falam coisas picantes que são engraçadas. Aí, eu vou até a copa para rir”, diverte-se. (Patricia Teixeira/AD)

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