A disputa pela vaga do ministro Luís Roberto Barroso está afunilada em torno do ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, 45 anos, e do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), 48 anos. Grosso modo, Messias é um candidato com mais apoio do Executivo e Pacheco, do Senado e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Se dependesse apenas da balança dos Poderes, seria 2 a 1 para Pacheco, mas a decisão é de um só, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além da filiação evangélica, pesa a favor de Messias a proximidade adquirida com Lula desde o governo Dilma Rousseff quando o atual AGU ocupava a poderosa Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ) da Presidência. Chamado de “Bessias” por Dilma, na conversa grampeada e divulgada pela Lava-Jato, foi incumbido de levar a Lula o termo de posse de Lula na Casa Civil num momento em que o então juiz Sergio Moro se preparava para prendê-lo.
Dilma estava na iminência de sofrer impeachment e esperava que a presença de Lula na Casa Civil a ajudasse a conter o desembarque do Centrão do governo, mas este termo de posse nunca chegou a ser usado porque a nomeação do atual presidente foi impedida pelo ministro Gilmar Mendes.
A história se encarregou de levar Moro a ser processado por Gilmar por calúnia e de colocar, em lados opostos na ocupação desta vaga no STF, emissário do termo de posse e o ministro que a impediu. Gilmar Mendes é um dos principais defensores do nome de Pacheco, adversário de Messias nesta disputa.
Interlocutores de Messias indagam por que Lula deixaria de indicar seu advogado para escolher o advogado do Senado. Interlocutores de Pacheco apontam o peso do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), a favor de Pacheco, além da dificuldade de Lula emplacar, na Casa, outro nome de grande proximidade — Cristiano Zanin foi seu advogado na Lava-Jato. E ainda que, depois de barrar sucessivas armações da Câmara contra o governo, teria chegado a hora de Alcolumbre colher os méritos de sua lealdade ao governo, como se o senador não acumulasse, também, uma infinidade de vitórias nas indicações políticas deste governo, a começar pelas agências reguladoras.
Pesa contra Messias o fato de que seria o segundo AGU indicado por Lula. O primeiro foi Dias Toffoli, de quem o presidente se afastou. Pesa contra Pacheco o fato de que o presidente gostaria de tê-lo como candidato ao governo de Minas Gerais.
Com esta nomeação, Lula terá cinco dos 11 ministros na Corte. Cármen Lúcia foi indicada no fim de seu primeiro mandato, em 2006, Toffoli, no fim do segundo, em 2009, Cristiano Zanin, em 2023, e Flávio Dino, seu ex-ministro da Justiça do terceiro mandato, em 2024. Michel Temer indicou Alexandre de Moraes, em 2017; Dilma teve, até a última quinta (9), Edson Fachin, Luiz Fux e Barroso. Jair Bolsonaro indicou Kassio Nunes e André Mendonça e Fernando Henrique Cardoso, o decano, Gilmar Mendes.
A despeito de Barroso ter dado várias sinalizações de que sua saída não demoraria muito, com sucessivas entrevistas e palestras em que fez balanços de sua carreira como juiz, não se esperava que a saída acontecesse de imediato, mas até dezembro. Não há indicação de que a saída precipitada por Barroso leve Lula a uma escolha de afogadilho, especialmente numa conjuntura de tensas relações com o Congresso. (Análise de Maria Cristina Fernandes, do Valor Econômico)