O clima é de preocupação entre os produtores que atuam na venda de hortifrutigranjeiros na sede da Ceasa (Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul), no bairro Anchieta, Zona Norte de Porto Alegre. Motivo: os prejuízos nas lavouras devido à falta de chuva. Conforme agricultores mais experientes, a tendência é de agravamento da situação até o final deste verão.
A combinação de tempo seco e quente acendeu o alerta para a cadeia produtiva. Estudos climáticos da Nasa (Agência Espacial Norte-Americana) apontaram 2019 como o segundo ano mais quente da história desde que essa medição é feita. Com isso, quem plantou no ano passado está sentindo neste momento o efeito de duas condições adversas: excesso de chuva para algumas culturas na primavera e seca potencializada pelas temperaturas elevadas atuais.
O resultado dessa variação climática é prejudicial para vários produtos. As plantas estão murchas e as folhas secas. Frutas como a uva, o pêssego e a melancia apresentam tamanho e qualidade inferiores às safras de anos anteriores.
Produtores de milho verde, por exemplo, correm o risco de perder toda a safra. É o caso de Marco Antônio Thomas, do município de Cruzeiro do Sul (Vale do Taquari), relata que metade da lavoura de 32 hectares de sua propriedade foi perdida. A quebra na safra do cereal custará a ele um prejuízo de aproximadamente R$ 100 mil.
“Com o calor, o grão fica menor e mais enrugado, diminuindo a qualidade da espiga”, lamenta Thomas. “Para amenizar o prejuízo, teríamos de ter chuva constante, de mais de 100 milímetros, o que é pouco provável.”
Já o produtor de hortaliças Renato Schommer, de Barão (Região Nordeste do Estado), detalha que o calor queimou as folhas do repolho. A sua plantação, de 80 mil pés, deve ter um perda em torno de 30%.
Frutas menores
O desenvolvimento das frutas também foi afetado. Segundo confirma o também agricultor Bruno Basso, de Farroupilha (Serra Gaúcha), pêssegos e ameixas estão menores.
“Uma caixa com 20 quilos de pêssegos que poderia ser vendida por R$ 60 está custando R$ 30”, desabafa Basso. “E o pior é que já estamos no final da colheita. No ano passado, choveu granizo e isso estragou as frutas. Nunca será uma safra perfeita.”
Produtor de grande variedade de uvas na localidade de Loreto, em Caxias do Sul (Serra), Jurandir Cechin está preocupado com a floração das videiras para a próxima safra. “As uvas estão miúdas”, confirma. “Em muitas parreiras, as folhas já caíram. As videiras estão ressequidas, mortas”. Nesta safra, ele já perdeu 40%.
Produtores de melancias da Região Carbonífera também se queixam dos prejuízos. Para Antônio Natalino Dill e Ailton Pereira da Rosa, que plantam na localidade de Morrinhos, em São Jerônimo (Região Carbonífera), a perda já chega a cerca de dez hectares. “Algumas melancias estão um pouco maiores que melões”, comparam. “Quem compra está levando, na verdade, para dar aos animais.”
(Marcello Campos)