O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou nesta segunda-feira (13) que as medidas de isolamento social mais restritivas contra o novo coronavírus continuarão em vigor até 11 de maio, ao menos. O país está em quarentena praticamente completa desde 16 de março.
Em discurso em que reconheceu falhas no combate à pandemia, ele pediu uma “refundação” da França. A crise do coronavírus, disse, é a chance para criar “um projeto de concórdia, um projeto francês, uma razão de viver juntos”.
“Saibamos deixar de lado as ideologias e nos reinventemos; eu, o primeiro”, afirmou Macron, em tom completamente diferente do que adotou em 16 de março, quando anunciou a quarentena e por diversas vezes repetiu “estamos em guerra!”.
A palavra que marcou a fala desta segunda foi “ébranlement”, que significa comoção, choque, atordoamento.
“Temos que reconhecer: o momento que vivemos é de comoção íntima e coletiva. Saibamos viver como tal e nos lembremos que somos vulneráveis”, disse o presidente, que pretende trabalhar a partir da próxima semana num “novo caminho” para a França.
Macron disse que, embora sejam difíceis, as medidas de restrição de mobilidade são indispensáveis para permitir que os hospitais franceses recuperem a capacidade de atender e salvem vidas.
Ele pediu que os franceses sigam as regras nas próximas quatro semanas: “Não há outra forma de agir com segurança para barrar o vírus e permitir a reconstrução”.
No dia 11 de maio, devem ser reabertas creches, escolas infantis, colégios e liceus, com reorganização tanto dos horários quanto dos espaços, para reduzir o risco de contágio.
Segundo o presidente, a volta das aulas é fundamental para impedir um aumento da desigualdade no país, já que crianças de famílias mais pobres têm menos recursos para continuar sua educação longe das escolas.
Faculdades só deverão voltar a ter aulas presenciais depois do verão, e lugares de aglomeração, como restaurantes, bares, cinemas, teatros e hotéis, ainda não têm data para reabrir.
Macron também anunciou que as fronteiras do país vão seguir fechadas para não europeus —franceses e cidadãos da União Europeia seguem sem restrições para entrar no país.
O governo deve reavaliar a situação a cada semana para tomar novas decisões de relaxamento ou reaperto das regras. Festivais só voltarão a acontecer a partir de julho, “no mínimo”, segundo o presidente.
Embora seja mais um país europeu a anunciar planos para sair da quarentena, a realidade da França é bem diferente da dos outros sete que tomaram a dianteira.
Enquanto Eslováquia, República Tcheca e Espanha já retomaram algumas atividades, os franceses precisarão cumprir mais quatro semanas de confinamento para chegar à abertura prometida.
A situação nos hospitais franceses também está longe da encontrada na Áustria e na Alemanha, onde o número de pacientes recuperados já supera a soma de doentes e mortos. A França precisou remanejar doentes de UTIs superlotadas e alguns foram transferidos para esses dois países, onde ainda há leitos disponíveis.
Com a capacidade de atendimento ainda estressada, Macron pediu que idosos, doentes e outras pessoas vulneráveis continuem em casa depois de 11 de maio. Segundo ele, até lá o governo terá capacidade para testar todas as pessoas que apresentem sintomas relacionados ao coronavírus, como febre e tosse.
Quem tiver contágio confirmado será isolado e tratado, e os contatos, monitorados. Para isso, a França também deve lançar um aplicativo, semelhante ao já apresentado na Áustria e na Alemanha, de uso voluntário.
O programa rastreia com quem o usuário se encontrou e em que datas. Em caso de infecção confirmada, ele avisa aqueles que tenham tido contato com o doente.
Macron disse que também partilha “da aflição de não saber quando será o fim desta provação”. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.